A angústia voltou a tomar conta da vida de Kedydja Cibelly Borges dos Santos, de 20 anos, que ainda está em processo de autoaceitação e reabilitação após acidente de ônibus que deixou seu rosto desfigurado. As cenas do acidente há um ano, quando ficou por cerca de dez minutos com o rosto embaixo do ônibus, foram revividas por meio de pesadelos e crises de ansiedade ao longo de novembro. Para ela, o acidente, as cirurgias e o drama que enfrentou para conseguir judicialmente ajuda da empresa de transporte responsável pela viagem, a Viação Progresso, desencadearam um trauma psicológico severo, do qual ela luta para se livrar. “Acordei com sobressaltos no mesmo dia (16 de novembro) e no mesmo horário (1h40 da madrugada) do acidente. Tive uma crise de ansiedade forte, por todas as lembranças terem voltado à tona e ter que lembrar dos momentos com muita dificuldade, com toda omissão e descaso da empresa responsável pelo acidente”, contou ela, relembrando que a empresa só passou a ajudá-la depois de ser obrigada por determinação da Justiça.
De viagem marcada para São Paulo (SP) no próximo domingo, dia 5 de dezembro, a estudante passará por avaliação no dia 6 de dezembro para dar início aos procedimentos necessários para a terceira cirurgia no rosto, além de realizar sessões de fisioterapia para ajudar na cicatrização. “Se tudo der certo, farei meu terceiro procedimento cirúrgico na semana seguinte à avaliação”, explica ela. Em virtude do acidente, a estudante teve a testa, a sobrancelha e o nariz comprometidos depois de ficar cerca de dez minutos embaixo do ônibus. O impacto causou afundamento da testa, acima da sobrancelha, e se espera que a nova cirurgia repare esse dano. Será feito um novo enxerto, retirando gordura do seu corpo, para colocar na área atingida. Apenas depois da harmonização da testa da estudante através dos enxertos é que haverá reparação da cicatriz deixada na sobrancelha. “Não vejo a hora de ver meu rosto parecido como era antes”, revela ela, que, por ter desenvolvido estresse pós-traumático, continua tendo atendimento psiquiátrico semanal e tomando remédio para atenuar sua depressão.
Kedydja contou também que, em muitos momentos, sofreu com falta de ar, chorando por muitas noites. Todas as vezes que fechava os olhos, revivia aquele momento tão difícil. “Vinha aquela cena na cabeça, era o cheiro de sangue, o carro, o vidro me machucando, foi a coisa mais horrível de passar de novo. Meu sonho é ficar bem”, conta Kedydja, que sempre foi vaidosa e gostava de se cuidar. Ela passou sete meses sem se olhar no espelho e agora seu único objetivo é se livrar dos traumas e ter a chance de viver normalmente. Para isso, ela conta com o apoio da família e de seu namorado, que a acompanha nas cirurgias.
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Andamento na Justiça
Todas as despesas dos procedimentos cirúrgicos e da permanência em São Paulo estão sendo pagas pela empresa responsável pelo ônibus que capotou e causou danos no rosto de Kedydja. No mês de julho, a 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) decidiu, por unanimidade, que a empresa de transporte Viação Progresso teria que bancar o tratamento de saúde da estudante, tanto em relação aos procedimentos cirúrgicos em São Paulo, quanto ao acompanhamento psiquiátrico. A decisão da 6ª Câmara Cível do TJPE ratificou a liminar do desembargador Fernando Antônio Araújo Martins, da 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça, que em maio passado concedeu decisão em caráter provisório ao recurso interposto pelo advogado da vítima, Eduardo Lemos Barbosa, especialista em indenizações e Direito de Família.
“Kedydja está dando um novo passo para evolução do seu tratamento para corrigir as marcas do seu rosto. Tudo isso graças à decisão judicial do Tribunal de Justiça de Pernambuco, que, através do desembargador Fernando Antonio de Araújo Martins, concedeu decisão em caráter provisório ao nosso recurso para que Kedydja iniciasse seu tratamento, decisão esta que acabou sendo ratificada pela 6ª. Câmera Civil do TJ há pouco mais de um mês”, destaca o advogado Eduardo Barbosa. O advogado de defesa recorreu da decisão do juiz da primeira instância em abril, quando o pedido da estudante de fazer cirurgias reparadoras para corrigir os danos causados pelo acidente havia sido negado. A segunda instância reconheceu o direito da vítima. “Tudo o que foi conquistado foi pelo caminho judicial no TJPE. A empresa sempre foi extremamente insensível e só começou a pagar o tratamento da estudante depois das decisões judiciais”, lembra ela.
O caso
Sete meses depois do acidente, Kedydja realizou a primeira cirurgia em São Paulo, depois que seu atual advogado de defesa, Eduardo Lemos Barbosa, assumiu o caso e conquistou diversas vitórias contra a Viação Progresso concedidas pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco(TJPE). Na primeira cirurgia, foi retirado um caco de vidro que estava no seu nariz e a impedia de respirar bem. Em setembro, outro procedimento de reparação foi realizado. A expectativa desde o começo do tratamento foi da realização de pelo menos quatro cirurgias para, enfim, começar as cirurgias plásticas. Todos esses momentos são passos importantes para a estudante, que logo após o acidente ficou muito abalada com a avaliação inicial feita por um médico de Petrolina (PE), município onde fez sua primeira cirurgia no dia seguinte ao acidente. “Ele disse que nada poderia ser feito com meu rosto e que eu precisava me acostumar com sua nova aparência. Cada cirurgia que faço em São Paulo eu celebro, mas sei que ainda há muito a se fazer”, diz ela. A consulta com o cirurgião plástico será no dia 6 de dezembro e, se tudo der certo, novos exames serão feitos para que a estudante se submeta a novos procedimentos cirúrgicos.