Pressa para ir ao banheiro e não perder o próximo metrô para casa. Era só essa a preocupação de Luís Fernandes Júnior, na manhã de terça-feira (28/12), antes de ser abordado no banheiro do Shopping da Bahia por um segurança . Ele havia acabado de comprar uma mochila na loja Zara, mas foi acusado de furto e, mesmo depois de apresentar nota fiscal, continuou sendo humilhado.
Outros consumidores presenciaram a confusão e postaram um vídeo do momento nas redes sociais na quarta-feira (29/12). O assunto, que viralizou, ainda causa muito sofrimento a Luís. Natural de Guiné Bissau, ele falou ao portal G1 sobre o constrangimento que sentiu durante toda a situação.
“Quando o rapaz ia me dar o troco, que era R$ 1, eu pedi só a nota fiscal porque estava com pressa. Ia perder o carro para casa e o prejuízo seria maior do que R$ 1. Eu então entrei no banheiro que fica perto da saída do metrô. Quando estava de pé, urinando, o segurança entrou e começou a gritar comigo”, lembrou.
Segundo o relato, o segurança do Shopping da Bahia pegou a mochila das mãos dele dizendo “'eu quero que você devolva agora a mochila que você roubou na loja da Zara”. Naquele momento, Luís lembra que mostrou a nota, ao que foi ignorado e teve o bem tirado das mãos pelo funcionário do Shopping da Bahia.
Luís ainda diz que os dois saíram andando pelo corredor, discutindo, e, ao retornar à Zara, ele perguntou ao atendente do caixa sobre o dono da mochila. “Quando chegamos de volta na loja, procurei o rapaz que me atendeu e perguntei a ele de quem era a mochila. O atendente respondeu que era minha, que eu havia comprado. Aí ele ficou sem jeito”, contou.
De acordo com a vítima, ele tinha sido visto duas vezes por esse mesmo segurança. Uma delas, quando estava indo ao caixa eletrônico para sacar o dinheiro com o qual comprou o item. Luís também argumentou que o segurança poderia ter verificado as câmeras da loja para acompanhar toda a movimentação dele, mas nada disso foi feito.
Em outro ponto da conversa, ele disse que foi distratado também pelo chefe da segurança do shopping. Ao perguntar sobre o treinamento dado aos funcionários, teria sido respondido com desdém. “Eu sei o que é racismo e o que você está fazendo'. Nesse momento, a fisionomia dele mudou e ele abaixou a cabeça”, contou.
‘Humilhado por ser negro’
Na mesma entrevista, Luís disse que não conseguiu registrar o boletim de ocorrência no mesmo dia porque passou mal após o episódio. “Me senti humilhado por ser negro. Foi como se ele tivesse me matado e me deixado na rua, de qualquer jeito. Doeu muito. E em nenhum momento eles pediram desculpas. Eu cheguei em casa arrasado, com uma dor de cabeça intensa”, lamentou.
Agora, ele vai buscar ajuda de um advogado especializado em casos de racismo para que os responsáveis sejam punidos. “Eu nunca passei por nada desse tipo. Só assistia na televisão e já me dava raiva de ver. É algo que não tem como compensar. Em momento nenhum a loja me procurou. Uma representante do shopping me ligou ontem (na quarta-feira, 29/12), para tentar conversar e pedir desculpa”, declarou.
Funcionária afastada
Em nota enviada ao Correio, a loja Zara disse estar “apurando os fatos” e que vai tomar “as providências necessárias e evitar que episódios como esse se repitam”. O texto também informa que uma funcionária foi preliminarmente afastada enquanto durarem as investigações, mas não detalhou qual cargo da colaboradora. O segurança que abordou Luís é funcionário do Shopping da Bahia. Leia a nota completa:
A Zara Brasil informa que, juntamente com a administração do Shopping da Bahia, está apurando todos os detalhes relacionados ao fato ocorrido na tarde de terça-feira, no centro comercial, para tomar as providências necessárias e evitar que episódios como esse se repitam. Por meio de investigação realizada até o momento, e até a finalização da mesma, tomou-se a decisão de afastar do serviço uma funcionária da loja. A empresa lamenta o ocorrido neste episódio, que não reflete os valores da companhia.
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