VACINA PARA CRIANÇAS

Consulta pública "quer dar voz aos negacionistas", indica presidente do SBP

Em entrevista ao Correio, Renato Kfouri afirma que "nunca se consulta a população ou público leigo para decidir estratégia de vacinação"

Gabriela Chabalgoity*
postado em 24/12/2021 08:24 / atualizado em 24/12/2021 08:24
 (crédito: Ascom SBP)
(crédito: Ascom SBP)

Nem mesmo o aval para a vacinação contra a covid-19 de crianças de 5 a 11 anos dado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a recomendação da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunizações da Covid-19 (CTAI Covid-19) foram suficientes para que o governo federal incluísse a faixa etária no Plano Nacional de Imunização (PNI). A vacinação desse grupo passa por uma consulta pública, aberta pelo Ministério da Saúde, até o dia 2 de janeiro.

Na opinião do presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, a consulta pública "é uma medida protelatória". Em entrevista ao Correio, ele destacou: "Nunca se consulta a população ou público leigo para decidir estratégia de vacinação. É uma estratégia que quer dar voz aos negacionistas.

Além da aprovação feita pela Anvisa, na última terça-feira, entidades médicas divulgaram o parecer, encaminhado à agência, com posicionamento favorável à vacinação infantil contra o coronavírus por meio do imunizante da Pfizer. O documento foi entregue à Anvisa após ser assinado pela SBP, pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Qual a importância da vacinação contra covid-19 de crianças?

Embora as crianças sejam proporcionalmente menos acometidas do que os adultos pelo vírus, não é desprezível a carga da doença na pediatria. São mais de 2,6 mil mortes nesses dois anos de pandemia, além de muitas hospitalizações, relatos de covid longa, sequelas, complicações tardias, como a síndrome inflamatória. Entre 5 e 11 anos, foram 300 óbitos, ou seja, o vírus provocou mais óbitos do que todas as doenças do calendário infantil. Temos que proteger essa população à medida que temos vacinas seguras.

Mas há riscos na vacinação?

A vacina da Pfizer é extremamente segura; já são quase 10 milhões de vacinas aplicadas no mundo, aprovada pela Anvisa e recomendada pelas sociedades científicas. Os dados dos Estados Unidos mostram, por exemplo, menos efeitos colaterais nesta faixa etária do que em adolescentes que já estão vacinados de 12 a 17 anos. É uma recomendação inequívoca das sociedades médicas e da Câmara Técnica.

Qual é a melhor saída para conter a ômicron e caminhar para o fim da pandemia?

Quando você aumenta o número de vacinados na população, você diminui o risco de novas ondas da doença, pela ômicron ou por qualquer outra variante. Essa é uma das estratégias que o mundo está utilizando: vacinar a maior parte da população, e isso inclui as crianças.

E o que o senhor pensa sobre a consulta pública realizada para avaliar a vacinação de crianças?

A consulta pública é uma medida protelatória, ao meu ver. Nunca se consulta população ou público leigo para decidir estratégia de vacinação. É uma manobra que quer dar voz aos negacionistas. Além dessa desinformação da internet, o próprio governo cria insegurança na população e trabalha contra a vacinação. Felizmente, a população não tem dado ouvidos ao governo e a esses grupos antivacinas e tem comparecido à vacinação.

* Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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