O julgamento de quatro réus pelo crime de homicídio no incêndio da Boate Kiss em Santa Maria (RS), em janeiro de 2013, entrou hoje (5/12) no quinto dia. Neste domingo estão previstos os depoimentos de Thiago Mutti, testemunha de defesa de um dos réus, e de uma das vítimas, Delvani Brondani Rosso.
No sábado, Cristiane dos Santos Clavé, que estava no estabelecimento e perdeu 15 amigos naquela noite, prestou depoimento.
Ela disse que estava de frente para o palco e viu dois fogos de artifício presos no chão durante o show da Banda Gurizada Fandangueira. Ao ver fumaça sentiu uma falta de ar muito forte e saiu do local para respirar melhor, desviando de várias pessoas que começaram a correr e a se empurrar. "A fumaça se espalhou rápido e chegou primeiro que eu lá na frente. Estava muito quente, era como o vapor de uma panela", destacou. Por estar próxima à porta de saída, conseguiu deixar a boate.
"Parecia uma cena de horror", disse sobre o cenário já de fora da boate. "Passava por cima dos corpos", lembrou. Sobre o amigo Leandro, (de apelido Chupa), que morreu no dia e foi encontrado próximo ao banheiro, ela afirmou que "tenho certeza que ele achou que ali era a saída".
Ao ser perguntada pelo juiz sobre o sentimento ao prestar depoimento e reviver os fatos, Cristiane disse que fazia isso em memória dos amigos falecidos.
Conforme Christiane, a boate não tinha sinalização e não foi anunciado o incêndio. Ela ouviu ainda pessoas sendo barradas na saída da Kiss. "Eu tenho certeza de que muita gente morreu sem saber o que estava acontecendo".
São réus no processo Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, proprietários do estabelecimento, o vocalista da banda Marcelo de Jesus dos Santos, e o produtor musical Luciano Bonilha Leão.
Entenda
A tragédia, que matou 242 pessoas e deixou 636 feridas, começou no palco, onde se apresentava a Banda Gurizada Fandangueira, e logo se alastrou, provocando muita fumaça tóxica. Um dos integrantes disparou um artefato pirotécnico, atingindo parte do teto do prédio, que pegou fogo.
A tragédia, que matou principalmente jovens, marcou a cidade de Santa Maria e abalou todo o país, pelo grande número de mortos e pelas imagens fortes. A boate tinha apenas uma porta de saída desobstruída. Bombeiros e populares tentavam, de todo jeito, abrir passagens quebrando os muros da casa, mas a demora no socorro acabou sendo trágica para os frequentadores. Após a tragédia, normas para prevenção de incêndio em estabelecimentos similares foram alteradas para garantir maior segurança em todo o Brasil.
A maior parte acabou morrendo pela inalação de fumaça tóxica, do isolamento acústico do teto, formado por uma espuma inflamável, incompatível com as normas de segurança modernas.
Desde o incêndio, as famílias dos jovens mortos formaram uma associação e, todos os anos, no dia 27 de janeiro, relembram a tragédia, a maior do estado do Rio Grande do Sul e uma das maiores do Brasil.
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