Em uma busca incansável, um pai passou 26 anos à procura do homem que matou sua filha, Nancy Mariana, uma jovem de 18 anos. O crime ocorreu em 1994, na cidade de Barranquilla, na Colômbia, quando sua filha saiu de casa acompanhada do então namorado, Jaime Saade, e nunca retornou.
Dois anos depois do assassinato, em 1996, Saade foi condenado pela justiça por homicídio e estupro. A pena seria de 27 anos, em regime fechado. No entanto, o jovem desapareceu sem, aparentemente, deixar rastros. A Interpol, imediatamente, emitiu um mandado internacional contra o condenado, sem sucesso.
Quase três décadas depois, Martín Mestre, com 79 anos, finalmente encontrou o assassino de sua filha. Com sorte, pois o tempo estava se esgotando: em julho de 2023 o tempo da sentença de Saade se completaria e, caso não fosse localizado, ficaria livre das acusações.
“Desde aquele dia vivo em função de ele ser preso. Não é uma obsessão, é um dever como pai”, disse Mestre em entrevista ao jornal "El País".
Uma busca incansável
O pai da jovem, oficial aposentado da Marinha, relatou que chegou a fazer um curso de investigação e criou quatro perfis falsos nas redes sociais para tentar rastrear o assassino. Ele acompanhava, na internet, pessoas que suspeitava terem relação com Saade.
Em 2019, ele encontrou uma pista que o levava para Belo Horizonte. Mestre descobriu que Saade vivia na capital mineira junto a família. Com documentos falsos, se casou, teve filhos e construiu uma nova vida.
Com o nome falso de Henrique dos Santos Abdala, Saade foi reconhecido pela Interpol e preso. Para ser condenado, no entanto, o homem precisa ser extraditado para a Colômbia.
Justiça para Nancy
O caso ainda está em um verdadeiro jogo de “pingue-pongue” na Justiça. No primeiro julgamento, realizado no Brasil, houve um empate no Supremo Tribunal Federal (STF) e o acusado foi mantido no Brasil.
Os advogados de defesa da família de Nancy trabalham, no momento, para a repetição do julgamento. Porém, enfrentam uma dificuldade: no Brasil, as ações prescrevem em 20 anos. Nos olhos da justiça brasileira, como se passaram 26 anos, Saade não pode mais cumprir pena.
“A sensação que tive é que julgaram o destino do assassino da minha filha como se fosse um jogo de futebol. Chorei muito, chorei muito por esse caso, mas não me canso, nunca vou desistir. Vamos trazê-lo para a Colômbia e ele vai começar a pagar”, lamentou o pai.
Sem previsão de conclusão do caso, os advogados acreditam na possibilidade que o assassino seja penalizado, no Brasil, somente por ingresso ilegal e falsificação de documento.
Ao jornal El País, os advogados de Saade afirmaram que o cliente “está bem”, vivendo em Belo Horizonte, onde é advogado e está “seguindo a vida”.
Ele permanece aguardando o julgamento pela entrada ilegal no Brasil, mas não espera uma pena dura. “No máximo o pagamento de uma multa”, afirmou o advogado Fernando Gomes Oliveira.
Em uma carta escrita na prisão, no ano passado, Saade reforçou uma versão diferente dos fatos: "Fui ao banheiro e depois de alguns minutos ouvi um tiro. Saí imediatamente e a vi no chão, com muito sangue e um revólver ao lado". O texto remete a um possível suicídio cometido pela jovem.
A sentença da justiça colombiana, por outro lado, é contrária a sua versão. À época, foi concluído que Nancy não se suicidou e que, ainda, havia recebido golpes nos braços, nas coxas e na zona vaginal. Além da perícia concluir que a jovem foi estuprada e que tentou se defender do agressor, infelizmente, sem sucesso.