chacina no Rio

8 corpos tirados do mangue

Moradores do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), na região do Grande Rio, retiraram pelo menos oito corpos, ontem, de uma área de mangue numa localidade conhecida como Palmeira. No último domingo, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar realizaram uma operação no local, um dia depois de o sargento-PM Leandro Rumbelsperger da Silva, de 40 anos, do 7º BPM (São Gonçalo), ter sido ferido com gravidade — acabou morrendo no hospital.

Segundo os moradores, os policiais promoveram uma chacina em represália à morte do colega. Foram eles, também, que retiraram os corpos, encontrados ainda na noite de domingo.

"Vieram de qualquer maneira e o resultado é esse. Deram tiro para todos os lados, e chefes de família ficaram em risco. E o resultado é esse: oito corpos e muitos outros que podem estar no mangue", disse um morador do local, que não quis se identificar. Segundo ele, "tratam a gente com a morte. Aqui não tem nada. O estado não dá condições para a gente sobreviver. Nós somos manipulados pelo governo, e eles fazem isso com a gente", acrescentou, indignado.

Abandono

Apesar de chamados para a remoção dos cadáveres, no meio da manhã de ontem não se viu bombeiros nem PMs — e mesmo os investigadores da Polícia Civil só compareceram ao local perto do meio-dia.

Segundo a corporação, agentes da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG) estiveram no local realizando a perícia. As equipes também realizaram as primeiras diligências na região em busca de testemunhas e outras pistas para esclarecer a dinâmica das mortes.

De acordo com a PM, policiais militares foram atacados nas proximidades do manguezal, no domingo, e houve intenso confronto. Por volta das 15h, uma equipe do Samu foi acionada para auxiliar um homem ferido na favela, e criminosos armados obrigaram que ele fosse levado do local.

A PM informou que instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a operação do Bope no Complexo do Salgueiro. Além da apuração, o Ministério Público do Rio (MPRJ) informou que a 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Niterói e São Gonçalo também está acompanhando as diligências no local "e tomará as medidas cabíveis". O MPRJ afirmou que a operação do Bope "foi regularmente comunicada pela Polícia Militar ao MPRJ".

Dados da Rede de Observatórios da Segurança apontam que, até o mês de outubro, o Rio de Janeiro registrou 38 chacinas, quatro a mais do que 2020. A Rede informou ainda que 27 delas teriam sido cometidas por policiais, com 128 mortes registradas.

Em maio passado, 28 pessoas foram mortas — sendo uma delas um policial civil — após ação da polícia na favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio.