Às vésperas da edição deste ano do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a crise no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) tem acentuado as incertezas dos participantes do certame. Na última semana, os servidores do instituto ouvidos pelo Correio relataram uma rotina de perseguições e assédios durante a elaboração das questões da prova. Segundo os funcionários, em 2019 a instituição criou uma comissão para verificar se as questões do Enem têm "pertinência com a realidade social". O órgão teve, há poucos dias, uma debandada de 37 profissionais que trabalhavam diretamente na realização do Enem.
"Essa instabilidade no Inep em um momento tão perto do Enem é um desrespeito com todos os estudantes que se preparam para a avaliação. A ansiedade já aumenta muito quando chega perto do dia. Com essa polêmica, então, só piora. Tenho receio de que isso afete a qualidade do exame, mas, infelizmente, não temos muitas opções no momento a não ser encarar o que vier", desabafou a estudante Júlia Vieira, de 20 anos.
Se preparando para o exame há três anos, ela enxerga no Enem o primeiro passo da construção do futuro. "A prova representa dar início ao meu sonho de me tornar uma profissional na área que almejo. É lamentável que a preocupação maior do governo seja a inclinação ideológica do exame em vez da formulação de uma prova voltada para a emancipação intelectual dos estudantes", lamentou a vestibulanda de medicina.
Recomeço
Para outros estudantes, o Enem representa uma chance de recomeço. É o caso de Luara Santos, 22, que depois de quatro anos cursando química na Universidade de Brasília (UnB) decidiu voltar a estudar para o exame. "Desde que voltei a estudar para o Enem e a trabalhar com mentorias direcionadas para essa prova, percebi que é mais que um vestibular. São sonhos e anseios que devem ser valorizados e respeitados pelos órgãos competentes. Tais instabilidades não favorecem esse processo que já é tão árduo. Espero que o processo do Enem de 2021 seja menos turbulento que o de 2020", observou.
Giulia Bonilha, de 19 anos, se prepara para a prova desde 2019. Ela vê a crise no Inep como o reflexo do "descaso do governo atual com os estudantes". "Fico muito angustiada pensando que isso pode afetar a aplicação por atraso ou algo do tipo", desabafou, temendo pela mudança no estilo de questões e de como as áreas de conhecimento serão cobradas.
Por meio de nota, o Inep garante que não há possibilidade de atrasos ou problemas na aplicação do Enem. "Destaca-se que o Inep encerrará o ano de 2021 cumprindo o cronograma de todos os exames e avaliações, que envolvem diretamente milhões de pessoas. A expertise do Instituto na realização de avaliações e exames educacionais ultrapassa 30 anos, com fluxos bem estabelecidos e continuidade garantida", assegurou.
Com a nota do Enem, o estudante pode se candidatar a diversas universidades públicas do país por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) — pelo qual as instituições disponibilizam suas vagas e informam qual a nota necessária para preenchê-las.