Apesar da modesta participação do Brasil, a COP26 mostrou que as demais nações esperam que o Brasil não apenas retome o protagonismo que teve, até 2018, na seara ambiental, mas que se consolide como a grande liderança do planeta. A avaliação é do governador do Pará, Helder Barbalho, que participou da Conferência do Clima da ONU, em Glasgow, representando o Consórcio Amazônia Legal — formado por Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Para ele, o governo federal tem uma visão estreita sobre as potencialidades da bioeconomia — tanto que defende que a chamada "floresta em pé" deveria ser uma commodity importante na pauta econômica brasileira. Mas, se do ponto de vista federal existe a dificuldade de enxergar a questão, no estadual as coisas estão bem avançadas. Hélder anunciou, na COP26, as iniciativas que seu governo implementou para unir desenvolvimento econômico com preservação ambiental. A seguir, os principais pontos da entrevista ao Correio.
O senhor fez anúncios importantes em Glasgow. Quais foram e como o Pará pretende implementar as propostas que apresentou?
A partir de uma linha de crédito que começa a operar imediatamente. Está estruturada, tem lei aprovada, tem recursos disponíveis — e se chama Banco do Pará Bio. Da ordem de R$ 400 milhões, tem como foco a agricultura familiar, os povos tradicionais, as comunidades indígenas, os quilombolas e os ribeirinhos. A ideia é fomentar o pequeno trabalhador para que ele possa, na atividade da bioeconomia, garantir produção e regeneração das áreas de cultivo, fortalecendo atividades de plantio que se conciliem com a preservação do meio ambiente e com espécies que fazem a captação dos créditos de carbono. A ideia é que nós possamos fortalecer atividades que se relacionam com a bioeconomia agro e com a biodiversidade da Amazônia
Como o senhor avalia a participação brasileira na COP26 até o momento, apesar da má impressão devido à ausência do presidente Jair Bolsonaro e, também, devido à política ambiental brasileira nos últimos anos?
Com relação à questão da representação, é fato que desde 2019 o Brasil fez uma escolha de não protagonizar a agenda global do meio ambiente. Isso, para um país com a Floresta Amazônica e outros biomas — e pelo fato de o mundo estar voltando os olhos para a importância que o Brasil tem para essa agenda —, certamente é algo que nos coloca, aqui, em condição desfavorável e de desconfiança. Quando nós fazemos uma comparação entre 2019 e 2021, as manifestações do Brasil assinando os tratados, isso renova as esperanças de que o país pode dar sua parcela de contribuição. Mas o Brasil está longe de atingir o patamar a que tem condições de chegar. Estão à espera de que o país lidere esse movimento, que não seja por meio do sacrifício da nação, mas pela abertura de oportunidades. No Pará, estamos debatendo a remuneração dos serviços ambientais. A floresta em pé deve ser uma commodity global, um ativo econômico — igual a pecuária, a lavoura e, portanto, um componente adicional à nossa economia.
Quais ações o Brasil deve tomar para recuperar o protagonismo ambiental?
Destacaria três pontos. O primeiro é combater o desmatamento e fazer a regeneração das áreas que já sofreram degeneração da terra. O segundo está ligado ao primeiro, que é a floresta em pé: precisa ser transformada numa nova commodity global, num novo ativo econômico. A floresta em pé tem que valer dinheiro para que, efetivamente, isso seja uma oportunidade para economia. E o terceiro ponto é investir em bioeconomia para criar uma nova vocação a partir da biodiversidade do Brasil.