Representatividade

Concurso de beleza: Brasil elege o primeiro Mister Trans

Final realizada no Teatro Santo Agostinho, em São Paulo, elegeu o modelo Bernardo Rabello como grande vencedor da noite

A grande final do Mister Brasil Trans, o primeiro concurso de beleza trans masculino a ser realizado em todo o mundo, foi realizada no Teatro Santo Agostinho, em São Paulo, na terça-feira (09/11). O representante do Rio de Janeiro, Bernardo Rabello, de 26 anos, foi o vencedor. "Quero ser uma voz potente pelos homens trans do Brasil", declarou no discurso de vitória.

O vencedor destacou como foi difícil conquistar o título, mas como considera o feito importante em termos de representatividade. “Superação. A caminhada até aqui foi árdua. Nesse caminho pude perceber que nada é maior do que os nossos sonhos. Que os obstáculos nos dão mais força para alcançá-los. Aprendi e amadureci enquanto pessoa."

Entre as etapas do concurso estavam fotogenia, o desempenho em passarela, e uma prova de talento, com apresentações de canto, malabarismo e até quem se arriscou em truques de mágica. A realização de uma competição esportiva também gerou pontos para os participantes.

“O evento foi maravilhoso. Nós tivemos contato com outros homens trans, e isso é muito importante, conhecer outras histórias é bacana... histórias de lutas, de conquistas. E falta mais isso no nosso meio”, conta Luan Henrique, Mister Mato Grosso do Sul e idealizador do concurso. “É uma coisa inexplicável, a união e a parceria que criamos”, completa.


Experiência única


Bernardo conta que a experiência do concurso superou as expectativas e destacou a importância da troca entre os participantes. “Absorvi as melhores coisas e transmiti a minha verdade dando a melhor versão de mim todos os dias. Não tenho dúvidas que será um marco não somente na minha vida, mas, se não, na vida de todos os candidatos e do público”, avalia Bernardo.

Além dos critérios de avaliação de aparência, desenvoltura e altivez, o concurso buscou qualidades como engajamento no movimento trans e a celebração da diversidade. Os participantes participaram de rodas de conversa, palestras sobre empreendedorismo, gravidez e outras questões relacionadas às questões trans, assim como eventos na Casa Florescer, uma casa de acolhimento para mulheres trans de São Paulo.

Tomás Araújo - Padre Júlio Lancelotti com participantes do Mister Brasil Trans na Casa Florescer, em São Paulo

“Vimos na noite da grande final a verdadeira representação da pluralidade de quem somos", diz. Ele destacou também a força do coletivo. "Mostramos o poder na nossa voz e cada um, com sua singularidade, provamos que juntos somos mais fortes", completou. Ele destacou que assumir uma identidade trans é um ato de resistência.

Superação

 

Além do prêmio em dinheiro, o grande vencedor também ganhou orientações para a realização de harmonização facial, capilar e corporal, e uma mamoplastia masculinizadora, que é a retirada dos seios, algo muito esperado para os homens trans. Porém os seis primeiros colocados já haviam realizado a cirurgia, então o prêmio passou para o sétimo colocado, David Lasarotto, candidato do Rio Grande do Norte.

David, que sofreu uma lesão no tornozelo no primeiro dia de concurso comemorou. “Eu não estou acreditando. O coração está saindo pela boca. É a realização de um sonho fazer a cirurgia", afirmou. Mesmo com a dor no tornozelo, ele participou de todas as provas. Ele também celebrou a possibilidade de fazer a cirurgia. "Tudo o que eu quero agora é tirar a camisa, sentir o vento no meu peito”.

Mensagens de força

A vereadora Erika Hilton (PSOL) Madrinha do evento, fez um discurso inflamado ressaltando a importância do Mister Brasil Trans. “É mais que uma disputa por beleza. É uma reação à sociedade cisheteronormativa que privilegia o falo, o pau. É uma vitória de nossos corpos contra a transfobia”, afirmou.

Erica Malunguinho, também presente, exaltou o concurso para o empoderamento de homens trans, e o padre Julio Lancelotti também aprovou. “A questão de gênero também perpassa a questão de classe. Muitas travestis, mulheres e homens trans não vão chegar ao palco deste teatro", disse. O sacerdote convocou a todos a se posicionarem ao lado dos mais pobres. "Não esqueçam das travestis moradoras de rua e dos homens trans que estão embaixo das marquises”.

Polêmica

Apesar de o evento ter sido uma forma de empoderamento e uma forma de dar visibilidade ao movimento trans, o concurso foi criticado nas redes sociais por não apresentar a diversidade que se propôs na divulgação.

Grande parte dos questionamentos foram feitos em torno dos sete finalistas, por serem homens trans brancos, com a transição completa, o que reforçaria o estereótipo padrão do homem cis hetero normativo, presente em nossa sociedade.

“Foi um evento muito bom mesmo, nós criamos dentro desses quatro dias uma parceria muito forte. Infelizmente a grande maioria dos meninos não estão satisfeitos com o resultado do concurso, a gente esperava outros candidatos serem eleitos pelos jurados”, declara Luan Henrique.

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