A duas semanas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), 35 servidores do Inep, instituto responsável pelo exame, pediram para deixar seus cargos de coordenação no órgão federal. Eles denunciam situações de assédio moral por parte do presidente Danilo Dupas e alegam “fragilidade técnica e administrativa da atual gestão”.
A debandada começou na sexta-feira (5/11), quando dois coordenadores-gerais do Instituto anunciaram a exoneração de seus cargos. Na manhã de segunda-feira (9/11), mais 13 coordenadores de áreas ligadas ao Enem fizeram um pedido de demissão coletivo. Ao final do dia, o número aumentou para 35.
A maioria dos servidores trabalhava nas áreas de planejamento e logística da aplicação da prova. Como todos os funcionários que pediram demissão são concursados, eles deixam seus cargos, mas continuam no ministério. Ao todo, o instituto tem 383 servidores.
Em meio à crise de confiança dentro do órgão, os pedidos de demissão vieram como forma de pressionar a saída do atual presidente do Inep, Danilo Dupas. Os servidores denunciam situações de assédio moral, desmonte nas diretorias, sobrecarga de trabalho e de funções e a desconsideração dos aspectos técnicos para a tomada de decisão do Instituto.
Além disso, o grupo também alega que o presidente teria pedido para deixar seu nome de fora do grupo responsável por resolver incidentes na prova, para se proteger judicialmente da responsabilização de eventuais falhas que possam ocorrer na realização do Enem.
"É fato que não há liderança na pasta da Educação e a atuação é meramente burocrática, sem uma proposta real e consistente. Assim como é certo que o coronavírus afeta a população de hoje, o vírus da falta de planejamento estratégico afetará a sociedade brasileira de amanhã. Quase sem controle, o navio da educação segue desgovernado, destruindo o presente e o futuro da nação", disse o professor Francisco Borges, mestre em políticas públicas para Educação e consultor da Fundação FAT.
No dia do exame, as Equipes de Incidentes e Resposta (ETIR) do Inep serão responsáveis por resolver problemas como interdições nos locais de prova ou atraso na abertura de portões. Historicamente, o presidente do Inep costuma liderar essas equipes
Desde 2019, com o início do governo Bolsonaro, o Instituto já teve quatro presidentes diferentes.
A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados pediu a convocação do ministro da Educação, Milton Ribeiro, e do presidente do Inep, Danilo Dupas, para que prestem esclarecimentos sobre os principais pontos que envolvem o Enem deste ano. Dupas deverá ser ouvido nesta quarta-feira (10).
MEC se pronuncia
A crise no Inep aumenta o clima de instabilidade e insegurança para especialistas, professores e alunos que se preparam há meses para a prova. O exame está marcado para os dias 21 e 28 de novembro, com cerca de 3 milhões de inscritos. O Ministério da Educação (MEC), pasta responsável pelo Inep, afirma que o cronograma está mantido e que os servidores continuam à disposição para exercer as atribuições dos cargos até a publicação de suas exonerações no Diário Oficial da União (DOU).
“[A instabilidade no MEC] afeta todos, não somente os alunos que vão fazer a próxima prova, mas também os professores, as próprias s escolas e as famílias dos alunos, já que há um investimento emocional e o investimento financeiro e uma expectativa muito grande na prova do Enem. É um sonho de realização de muitos que estão na escola hoje em dia realizar a prova com sucesso e esse tipo de instabilidade e de decisão assim, às vésperas do Enem, causa, de fato, uma estabilidade”, afirma o doutor em educação e psicopedagogo Eugênio Cunha.
O Inep não se declarou sobre as demissões. Segundo o MEC, as provas do exame já se encontram com a empresa aplicadora e o Inep está monitorando a situação para garantir a normalidade de sua execução. A Cesgranrio, empresa que aplica o exame, afirmou que não vai se manifestar “por força contratual”.
Para Alana Giordano, de 18 anos, o Enem representa uma porta para o seu futuro. “O que o Enem representa na minha vida é basicamente o caminho pro meu futuro. Acho que entrar uma universidade vai me dar um uma direção do que eu estou pensando para o meu futuro”, disse.
Preparando-se para o exame há mais de um ano, Alana afirma que já sentia uma certa desorganização nas edições anteriores, e agora teme ainda mais problemas. “Não me surpreende também, porque o órgão apresenta instabilidade desde 2019, com gabarito errado, questão errada, além de um descaso enorme com os alunos em relação ao covid-19”, relembrou.
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*Estagiários sob supervisão de