Após participar do concurso fotográfico da Harley-Davidson, o “Ride Challenge”, a brasiliense Raphaela Maciel, 29, não imaginou a dor de cabeça que teria. Acontece que a moradora de Samambaia chegou até a prova final da seleção, com votação de suas fotos aberta ao público, e, mesmo tendo a maioria das curtidas no Instagram da montadora, outra pessoa acabou sendo anunciada como a vencedora.
O concurso consistia em cada participante tirar uma foto, junto de sua motocicleta, em oito locais definidos pela Harley. Cada imagem deveria ser postada no Instagram e respeitar regras definidas no início do concurso. Após essa etapa, que durou de dezembro de 2020 até agosto de 2021, a Harley-Davidson escolheria as cinco melhores fotos publicadas pelos participantes e estas fotos seriam disponibilizadas para votação popular também pela rede social. Os critérios listados para a escolha eram: criatividade, originalidade e adequação. A votação seria feita no Instagram justamente porque cada perfil só poderia curtir uma vez a foto de sua preferência.
Ao final desta etapa, Raphaela conseguiu ter a foto mais curtida, entretanto, dias antes da divulgação do resultado final, representantes da Harley-Davidson entraram em contato com os cinco finalistas explicando que foi realizada uma auditoria e que alguns votos seriam desconsiderados, pois teriam sido feitos por “contas falsas” no Instagram.
Ao Correio, Raphaela afirma que não recebeu nenhum relatório da auditoria. “Eles eliminaram perfis com taxa de engajamento baixo considerando robôs. Só que robôs são robôs e pessoas com baixo engajamento são outra coisa”, relata.
E então, no dia 29 de outubro, a empresa revelou o vencedor do concurso e confirmou que Raphaela tinha ficado em segundo lugar após a apuração. Ao entrar em contato com a Harley-Davidson, a resposta recebida pela brasiliense foi uma reafirmação da auditoria das curtidas nas fotos e a defesa do resultado.
Logo depois, foi anunciado que a empresa estenderá o concurso selecionando outras cinco fotografias para uma nova votação popular onde a mais votada ganhará também uma motocicleta, fazendo com que Raphaela ficasse sem qualquer premiação.
Raphaela então decidiu abrir um processo na Justiça contra a montadora, a fim de fazer valer o que foi listado como regra do concurso inicialmente. A motociclista acredita que a decisão partiu de um preconceito por parte dos organizadores, já que a moto dela era a única com marca distinta (apesar do regulamento não proibir nenhuma marca de participar do desafio). “Acho que de fato também foi preconceito porque a única moto na final que não era Harley era a minha", desabafou.
A reportagem entrou em contato com a Harley-Davidson Brasil mas, até o fechamento desta matéria, não obteve resposta sobre o assunto.
Expectativas para o prêmio
Em entrevista para o Correio no final de setembro, antes da revelação do vencedor do concurso, Raphaela disse que se sentia feliz em ser uma representante mulher e ter conseguido cumprir o desafio com a moto de outra montadora. "Ser de Brasília, ser mulher, estar com moto de baixa cilindrada de todos os finalistas significa que a gente tá rompendo muito mais do que barreiras dos meu sonhos apenas, é muito mais que isso", relatou.
Na época, ela afirmou ser uma nova pessoa depois do desafio e que cresceu em autoconhecimento que aprendeu a ressignificar as coisas e a ter paciência. “É com certeza uma história que eu vou gostar muito de contar para minha filha, para os meus netos e para todo mundo que eu tiver oportunidade. Porque eu me lembro muito bem do dia que eu orei para isso, mesmo sendo algo impossível de acontecer".
O prêmio para o ganhador seria uma moto da Harley-Davidson e Raphaela estava empolgada para tê-la. “Eu quero trazer esse Harllão para minha vida, para Brasília e para o mundo. Quero viver na estrada. Enquanto eu puder, quero está em cima de uma moto”, concluiu.