DESPEDIDA

Fãs prestam homenagens a Marília Mendonça no túmulo em Goiânia

A cantora foi enterrada ao lado do tio Abiceli Silveira. Próximo à sepultura, flores e mensagens de afeto

Goiânia — Parque Memorial, a 8km da entrada sul da capital, na rodovia GO-020. À sombra de um dos únicos dois pés de angico que atraem vários pássaros, mas também o olhar, pela beleza, estão dezenas de coroas de flores. Homenagens de famosos, como Chitãozinho e Xororó, Bruno e Marrone, Zezé Di Camargo e Luciano, Maiara e Maraisa, Henrique e Juliano, entre outros. Um cartaz escrito à mão por um anônimo se destaca. Transmite dor e saudade. Traz vários desenhos de coração e uma mensagem que mais parece uma lição. "A vida é um sopro. Nunca estamos preparados para as surpresas que a vida nos reserva. Vai com Deus, Marília, nossa rainha da sofrência. O céu encheu-se de luz e uma nova estrela começa a brilhar. Nosso anjo de luz, Marília Mendonça", escreveu o menino em um cartaz grande, colocado caprichosamente no meio do jazigo da quadra 03.

Ali estão sepultados os corpos de Marília Mendonça e do tio e assessor, Abiceli Silveira Dias Filhos, mortos na queda de um bimotor em Piedade de Caratinga, no Vale do Rio Doce, interior de Minas Gerais, na tarde da última sexta-feira. O funcionário público Rafael Ferreira da Silva, 40 anos, observa o jazigo. Custa a acreditar. Lembra de outra "estrelinha", o filho de 9 anos enterrado a apenas 20m do túmulo de Marília. "Toda vez que ouço a música Estrelinha eu choro muito. Meu filho morreu de infecção generalizada, por conta de uma apendicite, dois dias depois do seu nono aniversário", contou o pai.

Para Rafael, Marília representa a inovação da música brasileira. "Ela levantou a bandeira em defesa das mulheres, coisa que nunca houve na música sertaneja. É uma compositora considerada referência nacional, que compôs muitos sucessos para duplas. Deixa um buraco no nosso meio. Muito humilde, ela não ligava muito para dinheiro, como muitas pessoas que pisam em outras", acrescentou. Humildade que mais uma vez se fez presente, mesmo depois da morte. Todos os túmulos do Parque Memorial de Goiânia são padronizados: um bloco de concreto verde com o nome do sepultado, além das datas de nascimento e de óbito.

A paranaense Helena Urbans, moradora de Goiânia, concorda com Rafael. Destaca que Marília representou as mulheres do Brasil, o que elas queriam expressar e ouvir. "Realmente é uma grande perda. Agora, uma estrelinha no céu", comentou. "Ela começou tão jovem, né? Ninguém acreditava nela. É uma mulher que será lembrada por muitos e muitos anos".

Aos 86 anos e moradora de Orizona (GO), a 128km de Goiânia, Maria da Piedade se coloca diante do túmulo e faz um desabafo: "Eu não conhecia ela, mas eu chorei tanto, chorei tanto ontem! Pela idade dela. Bonita daquele tanto!" A idosa conta que perdeu as duas irmãs caçulas para a covid-19 em um intervalo de quatro meses, em 15 de julho e em 21 de novembro. Com medo da pandemia, não visitava um cemitério havia um ano. "Meu marido está enterrado aqui, na quadra 02. Ele gostava muito das músicas dela", disse. Sem as irmãs e sem Marília, as cantorias de moda de viola da família de Maria da Piedade se acabaram. "A gente sente demais pela morte dela. Todas as letras das músicas sertanejas são maravilhosas, não é?"

A música de Marília unia gente de toda a idade e de toda a classe social. A porteira Marilza Soares, 43, garante que é "fã número 1" da cantora. Faz questão de usar o verbo no presente. "Espero que ela tenha um bom lugar. Era uma pessoa muito humilde. Sempre ao lado das mulheres, aumentava a nossa autoestima por meio das músicas", opinou. Para Marilza, a rainha da sofrência "virou uma estrelinha no céu para brilhar". "Vai ficar para sempre no coração dos fãs e será lembrada por toda a eternidade", emocionou-se. O cemitério Parque Memorial de Goiânia está aberto para a visitação de segunda a domingo, das 8h às 18h.

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