Piloto pode ter se enganado

Muitos mistérios rondam as circunstâncias do acidente que encerrou tão cedo a vida da cantora e compositora Marília Mendonça, aos 26 anos, e mais quatro pessoas. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) informou que o avião — um bimotor King Air, da Beech Aircraft — não tem caixa-preta, o que facilitaria a descoberta mais eficaz da fatalidade. Segundo o órgão, na aeronave foi encontrado um spot geolocalizador (aparelho pequeno, menor que um celular, conectado a satélites) para ser confrontado com o plano de voo.

Há suspeitas, ainda, de que a aeronave se chocou com a rede elétrica de alta tensão porque o piloto estaria voando abaixo da altura apropriada para aquele local acidentado e teve que fazer o consequente voo forçado. Se isso aconteceu, o piloto pode ter sido levado a erro, informam especialistas. Aparentemente, pelas evidências que se tem até agora, não havia sinalização da rede elétrica — uma espécie de bola laranja que é colocada ao longo dos fios —, destaca Adalberto Febeliano, especialista em aviação e professor de economia do transporte aéreo.

"Essa sinalização é importante porque os pilotos, por causa da distância, não enxergam os fios. No meu entender, essas linhas de alta tensão não estavam sinalizadas. Mas esse é um fato, de fundamental importância, que somente a investigação vai mostrar", destacou Febeliano. O relatório final — ou mesmo um documento preliminar — só deverá ser divulgado em no mínimo 30 dias, destaca ele. O possível choque com o fio de alta tensão poderia ser uma das causas das mortes, explica Adalberto Febeliano.

Mas se o fio, no caso, foi de baixa tensão ou de fibra ótica, para internet, a desaceleração foi fatal. "A aeronave deveria estar voando a aproximadamente 200km/h. O organismo humano não resiste à rápida desaceleração. Enfim, são muitos os fatores. Efetivamente, precisamos ter paciência. O relatório não deve sair rápido", reforça o especialista.

Obstáculos

Na análise de Jorge Leal Medeiros, engenheiro aeronáutico, piloto civil e professor de transporte aeronáutico da Universidade de São Paulo (USP), não há dúvida de que, se houve a batida, a causa foi a baixa altitude, em um ambiente — o aeroporto de Caratinga (MG) — com muitos obstáculos. "Nesse caso, é preciso uma habilitação especial. O mesmo acontece, por exemplo, no Altiporto de Courchevel (França), uma estação de esqui nos Alpes franceses."