Forças de segurança policiais e ambientais se articulam para coibir a exploração ilegal de ouro no rio Madeira, no interior do Amazonas. Há cerca de 15 dias, o local foi invadido por garimpeiros após circularem informações acerca da abundância do minério na localidade.
Centenas de balsas equipadas com bombas d'água e casas flutuantes para varrer o fundo de rios. As instalações precárias estão enfileiradas, conforme imagens e vídeos amplamente divulgados na internet. A região fica próxima ao município de Autazes, a cerca de 120 quilômetros distante de Manaus.
O Correio entrou em contato com órgãos federais de fiscalização e controle. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou, em nota, que está em processo de planejamento a operação de fiscalização, "que será coordenada pela Polícia Federal em conjunto com o Ibama, e deverá acontecer nos próximos dias."
Em nota, a Polícia Federal diz que tem conhecimento das atividades ilícitas no rio Madeira, "e juntamente com outras instituições estabelecerá as melhores estratégias para o enfrentamento do problema e interrupção dos danos ambientais. A corporação, no entanto, afirma que a operação ocorre sob sigilo total.
Na quarta-feira (24), o Ministério Público Federal (MPF) recomendou medidas emergenciais para reprimir o garimpo ilegal em Autuazes. A instituição aconselha a atuação integrada de órgãos e autarquias competentes no prazo de 30 dias.
Aproximadamente 300 embarcações estão no rio amazonense. A exploração sem autorização no local está proibida. Em agosto deste ano, a Justiça Federal condenou o Ibama a anular as licenças concedidas irregularmente para as atividades de extração de ouro no leito do rio Madeira, em uma área de mais de 37 mil hectares, na região sul do Amazonas. A decisão continua válida e confirma uma liminar de 2017 semelhante.
"Com isso, toda a atividade garimpeira antes amparada por essas licenças irregulares deve seguir paralisada. A ação que originou a sentença é do Ministério Público Federal (MPF) em ação civil pública. Atualmente, o processo está em fase de recurso", informa, em nota o MPF.
As balsas retiram o ouro por meio de longas mangueiras instaladas no fundo do rio. A bomba de água suga a terra e tudo que encontra no leito. O material extraído chega até a balsa e passa por uma esteira, onde é filtrado e devolvido à água. O ouro encontrado fica retido na esteira.
Além de ilegal, o trabalho realizado pelas dragas polui e impacta diretamente o meio ambiente e as comunidades ribeirinhas e indígenas. Esse processo predatório destrói o alimento de centenas de espécies de peixes. Além disso, compromete a qualidade da água e provoca assoreamento.
Biodiversidade
O rio Madeira é um dos principais afluentes do rio Amazonas e tem cerca de 3.335 quilômetros de extensão. A bacia passa pelo Brasil, Peru e Bolívia, e tem importância vital na economia de regiões brasileiras, em especial pela pesca e transporte hidroviário.
"O Madeira é o rio com a maior biodiversidade no mundo. Abriga pelo menos 1.000 espécies de peixes já identificadas, e sua bacia contribui com 50% do total da carga de sedimentos suspensos transportados pelo rio Amazonas. Trata-se de um gigante que agoniza com hidrelétricas e uma epidemia de garimpo que nunca foi contida", explicou Danicley Aguiar, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace.
O Greenpeace registrou imagens da ação ilícita. "O que vimos é o desenrolar de um crime ocorrendo à luz do dia, sem o menor constrangimento. Isso tudo, óbvio, é referendado pelo presidente Bolsonaro, que dá licença política e moral para que os garimpeiros ajam dessa maneira", acusou o ambientalista.
*Estagiários sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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