Denúncia

Filha de Zé do Caixão denuncia médicos da Prevent Senior por negligência

Liz Marins disse que o pai foi retirado da semi-intensiva de maneira precoce: "um médico (...) não deu o atendimento imediato e ficou tentando nos convencer a deixá-lo morrer"

Jéssica Gotlib
postado em 23/11/2021 10:44
"O médico chefe começou um discurso de que o meu pai tinha 83 anos, comorbidades e que tínhamos que aceitar que ele precisava partir", denunciou a filha de Zé do Caixão - (crédito: Liz Marins/Instagram/Reprodução)

A filha do cineasta José Mojica Marins, Liz Marins, famoso pelo apelido Zé do Caixão, denunciou dois médicos da Prevent Senior por negligência durante o tratamento do pai. Em entrevista à Globo News, Liz Marins ela contou que o pai, morto aos 83 anos em fevereiro de 2020, após uma broncopneumonia, foi retirado precocemente da unidade de terapia semi-intensiva. Além disso, de acordo com o relato de Liz, um dos médicos teria demorado a removê-lo do quarto de volta para a semi-UTI.

“A minha denúncia é contra dois médicos, um que tirou ele da semi-UTI quando ele estava estabilizado, grave, mas estabilizado, e mandou pro quarto e um médico que vendo o meu pai com a saturação despencando no quarto, não deu o atendimento imediato e ficou tentando nos convencer a deixá-lo morrer”, declarou na conversa que foi ao ar na última segunda-feira (22/11).

Antes de falar à TV, a também cineasta havia compartilhado no Facebook um relato detalhado do dia em que Mojica faleceu. “Um dia de caos! E não era ficção, foi o horror da realidade! Até hoje não sei o quanto mais o meu pai teria de tempo de vida se não tivesse ocorrido esta (sem exageros!) tentativa de extermínio”, começou a lembrar no texto.

Sem dar muito detalhes, Liz externou sua consternação e questionou a obrigação ética e contratual dos profissionais que atenderam Mujica. “Qual foi a intensidade da tortura que ele sofreu durante estas intermináveis “poucas” horas? Quantas pessoas não puderam lutar pelos seus entes queridos por simplesmente acreditarem no “juramento médico” de salvar vida”, colocou.

Internação

No mesmo relato, Liz Marins descreve o quadro de saúde do pai. Zé do Caixão estava debilitado por um infarto em 2014. Com apenas 25% dos rins funcionando e dependente de hemodiálise, ele passou cinco meses internado no hospital Incor. De lá, até a internação em 2020, a família coordenou eventos dos quais ele participava e os cuidados diários de saúde. Liz relata que acompanhou todas as internações em UTI e quartos de hospitais durante os seis anos que se passaram e, por isso, estranhou desde o começo o andamento do caso na unidade Sancta Maggiore (Paraíso).

“O estado era grave, mas com estabilidade em níveis basais, (o nível mais baixo aceitável para a manutenção da vida). Contudo, por ordem arbitrária de um dos médicos (não sei se havia outros profissionais envolvidos nesta “ordem”, sei muito bem com quem falei) meu pai foi transferido da Semi UTI para o quarto, apesar da minha insistente negativa sobre isto”, lembrou. Segundo a filha de Mojica, uma médica havia falado com a família antes da fatídica decisão.

“Eu estava no hospital com mais duas pessoas da família, tínhamos falado com uma outra médica anteriormente e ela tinha nos alertado sobre o frágil estado de saúde do meu pai, com estabilidade de saúde, mas em níveis basais. Como sabia disso pela boca de uma outra médica que tinha conversado conosco pouco tempo antes, fiquei indignada, junto às familiares, argumentando com o médico para não passá-lo para o quarto”, relatou.

De acordo com ela, a saturação de Zé do Caixão, que estava em 93% na semi-intensiva, caiu para 83% assim que chegou ao quarto. Logo depois, ela chamou a enfermeira-chefe do plantão que monitorou novamente o parâmetro e constatou uma saturação de 77%. “Sensação de afogamento”, disse a filha.

Ao chamar o médico e pedir que Zé fosse novamente levado à UTI, Liz teve uma resposta que a deixou em desespero. “O médico chefe começou um discurso (parecido com os que já havíamos escutado de vários médicos, inclusive, da boca do médico que o transferiu da Semi U.T.I. para o quarto) de que o meu pai tinha 83 anos, comorbidades e que tínhamos que aceitar que ele precisava partir. Indignada, eu o interrompia o tempo inteiro, falando para o médico socorrê-lo, pois o meu pai estava morrendo enquanto o médico apenas estava falando”, relata.

O texto continua dando detalhes de como a família se sentiu e dos procedimentos realizados pelos dois médicos da Prevent Senior que, na visão da filha, encurtaram a vida do cineasta.

Resposta e investigação

Em nota enviada à imprensa, a Prevent negou que o atendimento tenha sido irregular. “Os prontuários do paciente demonstram que todos os investimentos possíveis foram realizados no tratamento do Sr. Mojica. Os detalhes dos prontuários não podem ser divulgados por razões legais, mas é possível afirmar que o paciente tinha uma série de comorbidades que agravaram seu quadro de saúde ao longo dos anos”, destaca o texto.

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) também foi procurado, mas informou que só pode investigar denúncias feitas pelos canais oficiais do órgão. As denúncias da filha de Zé do Caixão se somam a uma série de acusações contra o convênio Prevent Senior.

Protagonista de um dos capítulos de maior repercussão da CPI da Covid, a operadora é suspeita de “eliminar” pacientes “de alto custo” durante a pandemia. O plano de saúde também está entre os campeões de reclamações na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável por fiscalizar a assistência paga.

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