Diante de uma realidade mais controlada da pandemia da covid-19, o Brasil assiste a alguns países da Europa e os Estados Unidos enfrentarem uma nova onda de casos e mortes pela doença e à retomada de restrições. O problema lá fora acontece por um conjunto de fatores, como uma baixa taxa de cobertura vacinal em alguns países, além da presença da variante delta — conhecida por ser mais transmissível —, além da aproximação do inverno no Hemisfério Norte.
Apesar de terem desembarcado, na manhã de ontem, no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), mais de dois milhões de doses de vacinas contra a covid-19 doadas pelos Estados Unidos, especialistas indicam que o Brasil não está alheio às novas ondas que acometem outras nações. Por causa disso, apontam estratégias que podem fazer o país não ter de voltar a conviver com uma escalada de mortes causadas pelo novo coronavírus.
André Bon, infectologista do Hospital Brasília, afirma que a vantagem brasileira é que a expansão da vacinação pode ser um fator inibidor do avanço da covid-19. "A cobertura vacinal cada vez mais ampla na nossa população nos dá certa segurança quanto a essa questão", salienta.
O infectologista lembra que a adesão às campanhas de vacinação no Brasil é mais um aspecto que o diferencia de outros países. "A gente tem, culturalmente, uma população que adere muito à vacinação, bem maior do que países europeus e Estados Unidos", observa.
Infectologista do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, Valéria Paes concorda e ressalta que o momento de maior tranquilidade vivido no Brasil está relacionado à vacinação, que já imunizou completamente contra a covid-19 131 milhões de pessoas. "Como vemos lá fora, esse aumento de casos ocorre principalmente entre os não vacinados. Temos que buscar quem não tomou a primeira dose e fazer com que quem tomou apenas esta tome a segunda", aponta.
Terceira dose
Jonas Brant, epidemiologista e coordenador da sala de situação de saúde da Universidade de Brasília (UnB), lembra que a dose de reforço vem como um "ganho" no combate contra uma nova onda de covid-19. "A gente tem visto que, a partir do quinto ou sexto mês, a imunidade contra o vírus começa a diminuir. Logo, a aplicação da dose de reforço garante que as pessoas voltem a ter um nível alto de imunidade contra o vírus", explica.
Na semana passada, o Ministério da Saúde anunciou a ampliação da aplicação da injeção adicional, que agora deve ser ministrada a toda a população adulta brasileira cinco meses depois da segunda dose. Valéria Paes vê o anúncio da expansão da dose de reforço como uma vantagem do Brasil.
"O fato de essa terceira dose ser viabilizada no Brasil, antes de uma nova onda, diferentemente da Europa, é uma vantagem. Começar a vacinar quando já se vive um aumento de casos é pior. Se a gente puder antecipar essa injeção para evitar uma nova onda, com certeza ela vai ajudar a evitar um aumento de casos", avalia.
Atenção
Brant e os especialistas ouvidos pelo Correio ressaltam que, apesar de tudo, o Brasil não está alheio às novas ondas que acometem outros países. O epidemiologista diz que é preciso estar atento à situação da Europa.
"Com as férias de fim de ano, há um grande trânsito entre o Brasil e Europa, e isso pode nos levar a ter um maior número de exposições a outras variantes do vírus", alerta. Ele explica que essas novas cepas podem ganhar vantagem na "competição" com outras que circulam no Brasil.
Além disso, Jonas Brant reforça que a vacinação sozinha não é suficiente. Ele elege o tripé "vigilância, organização dos serviços (para detectar os casos rapidamente) e ações de bloqueio" como determinante para evitar uma nova onda.
"O Brasil tem apostado muito no fortalecimento da vacinação. Mas também precisa fortalecer a atenção primária, a vigilância e a testagem para que estejamos preparados para detectar rapidamente qualquer nova variante, novos casos, e isolar essa transmissão", observa.
*Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo
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