Em mais um recorde, o Brasil registrou o maior índice de desmatamento do país dos últimos 15 anos na chamada Amazônia Legal, que engloba o território de nove estados. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados ontem, entre agosto de 2020 e julho de 2021 foram desmatados 13.235 km² de floresta na região. Esse volume é 21,97% maior que o registro no mesmo intervalo de 12 meses anterior, quando a área devastada chegou a 10.851 km².
Chama a atenção o fato de o documento do Inpe com os dados oficiais ser datado de 27 de outubro, mas ter sido divulgado apenas ontem. Ou seja, a informação só foi conhecida 22 dias após o documento ser elaborado e depois de ser encerrada a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP26, em Glasgow.
Os dados consolidados pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélites (Prodes) são conhecidos como a informação técnica mais precisa sobre a medição de desmatamento no país. Para chegar ao levantamento, foi detalhada a situação de 106 cenas prioritárias em todos as unidades da Federação que compõem a região.
O Pará é o estado com a maior taxa de desmatamento, respondendo sozinho por 5.257 km² de devastação, o equivalente a 39,72% da área total. Amazonas é o segundo mais afetado, com 2.347 km² (17,73%), seguido por Mato Grosso, com 2.263 (17,10%).
O dado é contrário ao discurso que o governo federal apresentou na COP26, de que tem protegido a Amazônia. Desde 2019, quando Jair Bolsonaro assumiu o Palácio do Planalto, praticamente dobrou o volume de desmatamento na região. O índice medido de julho de 2017 a agosto de 2018 foi de 7.536 km² de desmatamento.
No primeiro ano da gestão Bolsonaro, em 2019, o volume saltou para 10.129 km². No ano passado, em nova alta, chegou a 10.851 km². Agora, atinge 13.235 km², só atrás do que se viu em 2006, quando a área desmatada chegou a 14.286 km².
Os ministérios da Justiça e do Meio Ambiente, porém, anunciaram que estão preparando ações integradas, com participação de inteligência policial, para coibir o desmatamento. Em entrevista, o ministro da Justiça, Anderson Torres, prometeu uso de "toda a força" para coibir crimes ambientais e permitir que o país cumpra metas assumidas na COP26 de zerar o desmatamento ilegal.
Já o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, afirmou que o governo precisará ser "mais contundente" para combater o desmatamento, após reconhecer que os números ainda são um "desafio".
Terras indígenas
E o vice-presidente Hamilton Mourão voltou a defender, ontem, a regulamentação de exploração mineral em terras indígenas. Na avaliação do general, se isso não acontecer, o governo ficará eternamente em um "jogo de gato e rato" com os garimpeiros.
"Tem que regulamentar a questão da exploração mineral em terra indígena. A Constituição prevê isso. Enquanto não regulamentar, vai continuar esse eterno jogo de gato e rato. É uma realidade", disse, à saída do Palácio do Planalto.
De acordo com o vice-presidente, alguns índios querem, inclusive, realizar atividades de garimpo em suas terras. "Há uma própria divisão no seio dos povos indígenas", garantiu o general.
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