O Brasil aderiu à iniciativa global de reduzir 30% das emissões do metano, na COP26, em Gasglow. Porém, há muito caminho pela frente para colocar em prática essa redução. No Brasil, a agropecuária é o maior emissor de metano. De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, do Observatório do Clima, o setor foi responsável por 73% do gás lançado entre 1990 e 2019 e 97% delas são por fermentação entérica, ou seja, o arroto do boi.
Segundo dados divulgados pela Embrapa, um boi libera cerca de 60 quilos de metano por ano. Segundo o IBGE, o Brasil contava, em 2020, com 218,2 milhões de cabeças de gado.
Na opinião de Alexandre Costa, PhD em Ciências Atmosféricas e cientista do clima, a pecuária brasileira precisa repensar a sua extensão. "Essa ideia de que nós podemos manter um rebanho bovino dessa dimensão, é uma irracionalidade. Isso tem a ver com o fato de que o consumo de carne é uma dieta insustentável. Globalmente, mais da metade dos territórios silvestres deu lugar a agropecuária", comentou. "Dessa quantidade, 77% é ocupada por pasto, ou por monocultura para ração animal. No final das contas, os produtos de origem animal nos fornecem apenas 18% das calorias e somente 37% das proteínas, segundo dados da FAO", observa.
Sobre as emissões de metano por parte do gado, o socioambientalista Thiago Ávila, explica que o gás metano tem efeito 34 vezes maior que o dióxido de carbono para causar o efeito estufa. "Em ambientes integrados com a natureza e abundância de árvores, os animais não geram impacto. Mas os efeitos se tornam catastróficos quando eles são colocados em alta intensidade em pastos de floresta recém-desmatada e queimada, em galpões confinados e outros processos", alerta.
"Em situações de pecuária de alta intensidade, além da grande crueldade animal presente nessa indústria, do uso intensivo de terra, de água e de nutrientes, há uma elevada taxa de emissão de metano. Isso dificulta severamente os esforços climáticos. Assim como a indústria dos combustíveis fósseis, a lógica da pecuária de alta intensidade precisa ser repensada cada vez mais a partir da produção de proteína vegetal, de campanhas educativas sobre mudanças de dieta e do fim de subsídio para uma indústria que é incompatível com os esforços para deter o desastre ambiental atual", complementou.
* Estagiárias sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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