A Polícia Civil de Imbé, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, identificou a responsável pelo áudio que orientava a não contratação de pessoas “muito gordas”, tatuadas e “viados” no âmbito da rede de farmácias São João. O registro de voz viralizou nas redes sociais na última semana e causou revolta. Em depoimento, prestado na quarta-feira (27/10), a suspeita admitiu a autoria do áudio. Ela era coordenadora de lojas e trabalhava há 13 anos na empresa, mas foi demitida na última quinta-feira (21/10).
A ex-funcionária utilizou o celular funcional da empresa para enviar a mensagem aos gerentes das farmácias. O aparelho foi entregue à polícia e passará por perícia. No áudio, a mulher descreve quatro grupos que devem ser evitados na hora da contratação. “Vocês sabem, feio e bonito é o mesmo preço, né, gente. Então, vamos cuidar muito nas nossas contratações”, diz ao introduzir o assunto.
Os candidatos que têm tatuagens e os que têm piercings são os primeiros citados pela coordenadora como indesejáveis. “Pessoas muito tatuadas, vocês sabem que a empresa não gosta. A questão piercing na língua, no nariz, não pode, a gente lida com saúde, né”, diz a mulher no áudio.
Ela também ressalta aos destinatários que o peso também deve ser avaliado na hora da contratação. “Pessoas muito gordas, vocês sabem… Então, assim, cuidem das aparências, cuidem as aparências”, frisou.
O terceiro grupo considerado indigno do trabalho na rede pela coordenadora são os pertencentes à comunidade LGBTQIA+. No entanto, apenas aquelas que “desmunhequem”, quem for “uma pessoa alinhada” pode concorrer a um emprego. “Se pegar alguém, com todo respeito, viado e tudo mais, tem que ser uma pessoa alinhada, que não vire a mão e desmunheque e fale, né…”, diz.
No fim da mensagem, ela pede a colaboração de todos e reforça que espera o empenho da equipe para cumprir os requisitos. “Então, não esqueçam: feio e bonito a gente vai pagar o mesmo preço, então vamos pegar os bonitos, né? Porque não somos bobos nem nada. Então, por favor, conto com vocês”, solicita.
Após o áudio viralizar, a empresa emitiu, em 18 de outubro, uma nota em que afirmava que a mensagem não era de uma funcionária da rede e classificou o caso como fake news. No entanto, na sexta-feira (22/9), a São joão admitiu que a autoria era de um funcionária, mas que ela não fazia mais parte do quadro.
Em nota, eles afirmam que a rede “repudia toda e qualquer manifestação que possa contrariar o ideal e valores de respeito aos direitos humanos”. “Nossa política interna repudia veementemente toda e qualquer forma de preconceito”, escreveram. A nota diz que a situação foi um “ato totalmente isolado de uma colaboradora”.
O delegado responsável pelo caso, Antônio Carlos Ractz Jr, conta que a São João informou à polícia sobre a autoria na quinta-feira (22/10), no entanto, a corporação já havia identificado a coordenadora. O delegado afirmou que a mulher é investigada sob acusação de crime de homofobia, que é equiparado a racismo com pena de dois a cinco anos de reclusão.
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