Cerca de 787 crianças e adolescentes foram mortas por policiais no Brasil, em 2020. Destas, cerca de 80% eram negras e 90% meninos. Os números estão no levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em conjunto com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que mostram panorama da violência letal e sexual contra crianças e adolescentes no Brasil, lançado nesta sexta-feira (22/10).
O estado de São Paulo é onde há a maior predominância dos casos (44%), seguido pelo Amapá, Sergipe, Pará e Rio de Janeiro. Esse número representa 15% do total das mortes violentas intencionais nessa faixa etária, e indica uma média de mais de 2 mortes por dia.
Segundo a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Samira Bueno, este tipo de assassinato acontece por um padrão de policiamento ostensivo. “No meio de um patrulhamento, o policial acaba se deparando com algum tipo de situação, resultando na morte de suspeitos. É um fenômeno que acontece com frequência no Brasil, mas ainda é algo localizado. Tem policiais em vários estados brasileiros que não produzem mortes, mas isto acontece com frequência por conta do padrão do uso da força”, afirmou.
Ainda segundo o estudo, o tipo de crime que mais acomete pessoas de 10 a 19 anos são os homicídios dolosos. Os meninos são a maioria dos assassinados por homicídio doloso e as meninas são as maiores vítimas de feminicídio. Entre 10 e 14 anos, 89% foram vítimas de homicídio doloso, sendo 5% das mortes por policiais e 3% foram em decorrência de feminicídio. Entre 15 a 19 anos, 86% foram vítimas de homicídio doloso. Destes, 11% foram mortos pelos fardados e 1% mortas em razão do gênero.
“As vítimas de 10 a 19 sofrem violência, majoritariamente, em vias e estabelecimentos públicos e outros locais. O principal instrumento dessas mortes são armas de fogo”, diz o estudo.
De acordo com Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil, os dados servem para melhor criação de políticas públicas. “Cada história mostra que tem um ser humano muito jovem morto que, muitas vezes, estava no lugar errado e na hora errada. É preciso elaborar políticas públicas como aumentar o orçamento de prevenção e monitoramento. Realizar atividades dentro das comunidades, como prevenção e capacitação de profissionais e da sociedade”, disse.
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