Isotermia

Lagoa da Pampulha amanhece com 'duas camadas'; entenda o fenômeno

Composta de material orgânico de esgoto, cobertura marrom emergiu com a chegada de frente fria à cidade; fenômeno mata peixes e deixa orla mais fétida

Cecília Emiliana - Estado de Minas
postado em 21/10/2021 15:09 / atualizado em 21/10/2021 15:09
 (crédito: Jair Amaral/EM/D.A.Press)
(crédito: Jair Amaral/EM/D.A.Press)

O cartão postal de Belo Horizonte amanheceu manchado nesta quinta-feira (21/10). Quem caminha pela orla da Lagoa da Pampulha vê duas camadas no espelho d'água - uma marrom, que remete a lama, e outra esverdeada.

O forte odor de esgoto que caracteriza alguns pontos da represa também está mais intenso.

O consultor ambiental e pesquisador da UFMG Ricardo Coelho explica que o fenômeno é característico do tempo chuvoso e castiga ainda mais o ecossistema da região.

Segundo especialista, a frente fria posicionada nos litorais fluminense e capixaba, responsável pelos temporais que atingiram a Grande BH no início da semana , baixou a temperatura na Pampulha, alterando o equilíbrio térmico do reservatório.

"A Lagoa da Pampulha já é naturalmente composta de duas camadas. Uma densa, muito rica em material orgânico oriundo do esgoto, que fica por baixo, e outra mais fluida, que fica por cima. Com a queda na temperatura, ocorre o que chamamos de isotermia. Ou seja: a temperatura duas fases se iguala e elas se misturam. O esgoto que estava sedimentado no fundo então emerge, formando manchas sobre as águas", esclarece o ambientalista.

"Isso acontece em todo lugar em que há despejo de esgoto. É muito comum também no Golfo da Flórida, por exemplo. A cor das camadas que passam a cobrir a água varia. Pode ser marrom, verde e até vermelho. Depende do tipo de algas e bactérias presentes no local. Elas aproveitam a subida do material orgânico para se reproduzir rapidamente, tecendo enormes manchas", complementa.

Uma vez emersa, a sujeira oriunda dos esgotos reduz o oxigênio da água e mata peixes
Uma vez emersa, a sujeira oriunda dos esgotos reduz o oxigênio da água e mata peixes (foto: Jair Amaral/EM/D.A.Press)

Além do desconforto estético, a isotermia também deixa a orla mais fétida, além de prejudicar a fauna da Pampulha. Coelho explica que a emersão da sujeira reduz a quantidade de oxigênio na água, o que deixa cheiro de esgoto mais evidente.

"A falta de oxigênio também provoca a mortandade de peixes. É muito triste que esse ponto tão importante da cidade não tenha uma gestão ambiental adequada", lamenta o biólogo.

 

 

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