Pandemia

Após início trágico, vacinação no Brasil avança e é destaque no mundo

Graças a uma extensa rede atendimento e ao hábito do brasileiro de se vacinar, o país está em melhor posição do que os Estados Unidos ou do que algumas nações da Europa, onde a resistência à imunização persiste

Gabriela Bernardes*
postado em 14/10/2021 22:11 / atualizado em 14/10/2021 22:14
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

O Brasil atingiu a marca de 100 milhões de pessoas totalmente vacinadas contra a covid-19 nesta quarta-feira (13/10), alcançando o percentual de 47,11% da população com o esquema vacinal completo — ou seja, aqueles que receberam ou a dose única da Janssen ou as duas doses de outro imunizante.

Nesta quinta-feira (14/10), o país bateu a marca de 150 milhões de pessoas vacinadas com ao menos uma dose. Segundo o Ministério da Saúde, foram aplicadas até o momento 150.179.756 doses. O número representa cerca de 93% dos 160 milhões de brasileiros que fazem parte do público-alvo da campanha, a partir dos 12 anos de idade.

Com esses números, o Brasil já supera a Alemanha e os Estados Unidos no número de pessoas vacinadas com ao menos uma dose. Além disso, o país se destaca na lista das nações mais populosas a ultrapassar a marca de mais de 100 milhões de pessoas totalmente imunizadas — os Estados Unidos (com mais de 330 milhões de habitantes), a China (mais de 1,4 bilhão) e a Índia (mais de 1,3 bilhão) também já completaram o esquema de vacinação em mais de 100 milhões de pessoas, de acordo com dados do site Our World in Data e de veículos de notícias internacionais. Muitos desses países, além de terem iniciado a campanha vacinal antes, em dezembro do ano passado, contam com uma disponibilidade de imunizantes maior.

Na avaliação de especialistas, o Programa Nacional de Imunização brasileiro é referência internacional. Além disso, o hábito de se vacinar está consolidado na população. “O Brasil possui uma longa história de disponibilidade de vacinas no sistema público de saúde. O PNI existe desde a década de 1970. Está na cultura do brasileiro imunizar-se", conta André Bon, infectologista do Hospital Brasília. "Além disso, temos um sistema de saúde muito capilarizado, facilitando o acesso da população às vacinas. Hoje temos um dos melhores e mais completos programas de vacinação do mundo. Isso explica, em grande parte, o avanço que tivemos na vacinação contra covid-19", acrescenta.

Resistência nos EUA

Nos Estados Unidos, por exemplo, apesar de a vacina estar disponível para toda a população acima de 12 anos, apenas 64,6% dos americanos aceitaram receber o imunizante. O país, que foi um dos primeiros a ampliar o programa de vacinação em larga escala e, inclusive, desobrigar medidas de proteção como o uso de máscaras, agora sofre para ampliar a taxa de vacinados.

Mesmo com uma grande disponibilidade de imunizantes e a tentativa de facilitar o acesso para a população — instalando pontos de vacinação em redes de farmácias, supermercados e shopping centers e oferecendo prêmios para quem fosse receber a dose da vacina — o país mais rico do mundo não tem conseguido superar o aumento da resistência de parte da população a se imunizar. "Nós observamos que em outros países, sobretudo nos Estados Unidos, existe um movimento antivacina muito forte. Principalmente, agora, com as mídias sociais, isso toma uma dimensão muito grande.”, explica o médico infectologista Julival Ribeiro.

Nos EUA, com ampla oferta de imunizantes, mais de 202 milhões de doses iniciais foram aplicadas, o que representa 78,5% da população adulta. Esse índice é bem inferior ao alcançado pelo Brasil, acima de 92% da população com mais de 18 anos.

Fenômeno global

O fenômeno da resistência à vacinação tem se espalhado pelo mundo. Israel, na Ásia, que apresentava uma das taxas mais altas do mundo, tem lutado com obstáculos para expandir o processo vacinal, com 70,44% da população vacinada com ao menos uma dose. Ao todo, 64,73% dos israelenses estão completamente imunizados contra a doença.

Na Europa, onde grande parte dos países já tinha imunizantes disponíveis em 2020, também percebe-se uma estagnação. A Alemanha já foi ultrapassada pelo Brasil na porcentagem de pessoas vacinadas com ao menos uma dose, e o Reino Unido deve ficar para trás em breve. Outros países como Suíça, Áustria, Grécia, Hungria e Polônia também vacinaram menos que o Brasil em relação à primeira dose.

O atual estágio brasileiro representa um avanço notório no combate à pandemia no país. O início da campanha vacinal contra a covid-19 no Brasil anunciava um fracasso. Os primeiros meses foram marcados por sucessivos atrasos na entrega dos imunizantes da AstraZeneca pela Fiocruz, atualmente os mais usados no país. O governo de Jair Bolsonaro, declarado antivacina, demorou a adquirir outros imunizantes, como o da Pfizer e da Janssen, e fez um incansável trabalho de divulgação de notícias falsas sobre os imunizantes. "Na Pfizer, está bem claro no contrato: 'Nós não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral'. Se você virar um jacaré, é problema de você. Não vou falar outro bicho aqui para não falar besteira. Se você virar o super-homem, se nascer barba em alguma mulher aí ou um homem começar a falar fino, eles não têm nada a ver com isso", afirmou o presidente, em uma de suas frases mais polêmicas sobre a vacinação.

Mesmo assim, hoje, o país se destaca na imunização contra a covid-19. “Precisamos parabenizar os brasileiros e brasileiras por essa disposição em se vacinar contra a covid. O Brasil tem um dos melhores programas de imunização do mundo, e essa política de imunização que faz tão bem o Sistema Único de Saúde aqui no Brasil.”, comenta o infectologista Julival Ribeiro. “Apesar de todo o negacionismo de algumas autoridades no Brasil fomos, estamos sendo vencedores no que tange a vacinação para a população brasileira.”, finaliza.


*Estagiária sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza

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