SAÚDE

Governo estuda suspender intervalo entre vacinas da covid-19 e da gripe

Com a medida, ainda não oficializada, pasta quer aumentar a adesão à Campanha Nacional de Imunização contra gripe. Atualmente, determinação é de intervalo mínimo de 14 dias entre vacinas do coronavírus e da Influenza. Previsão é de que mudança comece em outubro

O Ministério da Saúde deve suspender, em outubro, o intervalo entre a aplicação das vacinas contra a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, e contra a gripe. A medida foi discutida pela Comissão Técnica do órgão a fim de aumentar a adesão à Campanha Nacional de Imunização contra Gripe. Atualmente, a recomendação é que se espere 14 dias entre cada aplicação.

“A Câmara Técnica Assessora de Imunização Covid-19 (Cetai) apresentou um estudo mostrando que não há problema em lançar mão dessa estratégia (de intervalo entre as diferentes imunizações)”, explicou o secretário-executivo da pasta, Rodrigo Cruz. Ele assume o comando de forma interina enquanto o ministro Marcelo Queiroga cumpre quarentena em Nova York, nos Estados Unidos — ele foi diagnosticado com a doença durante viagem ao país para acompanhar o presidente Jair Bolsonaro na 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

Em nota, a Saúde afirmou que a “medida está em avaliação”. De acordo com Cruz, a expectativa é de que uma nota técnica saia nos próximos dias, oficializando a alteração. Segundo informações do Programa Nacional de Imunização, é “improvável que a administração simultânea das vacinas covid-19 com as demais vacinas do calendário vacinal incorra em redução da resposta imune ou risco aumentado de eventos adversos”.

Apesar disso, a pasta adverte que até o momento, em razão da “ausência de estudos nesse sentido, bem como visando possibilitar o monitoramento de eventos adversos pós-vacinação, não se recomenda a administração simultânea com as demais vacinas do calendário vacinal”, destaca em nota.
“Por enquanto, será só com a vacina da gripe. O PNI está avaliando outras possibilidades. Essa recomendação foi feita para poder aproveitar que o cidadão, quando tomar a sua segunda dose da vacina contra a covid, como já está no posto de saúde, já tome também a dose da gripe”, afirmou.
“A gente observa que não houve um comportamento (em busca da vacina) que vinha sendo praticado ao longo dos anos. Teve uma diminuição. O incentivo do ministério é para que todos procurem os postos de saúde e continuem a imunização nas campanhas regulares”, concluiu o ministro interino Rodrigo Cruz.

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Dose de reforço

A Comissão Técnica do órgão também tem discutido a ampliação da dose de reforço contra o coronavírus para os profissionais de saúde. A novidade foi anunciada pelo ministro Marcelo Queiroga, mas ainda precisa ser oficializada em publicação no Diário Oficial da União, e melhor explicada por meio de uma nota técnica que está em elaboração. A decisão contemplará médicos e enfermeiros, entre outros trabalhadores, que tenham completado o ciclo de imunização há pelo menos seis meses, independentemente do imunizante que tenham tomado.

A vacina aplicada será, preferencialmente, a da Pfizer/BioNTech, assim como para idosos a partir de 70 anos e pessoas imunossuprimidas. Todas as categorias da saúde devem ser contempladas, mas ainda não há informações sobre possíveis prioridades entre os profissionais.

Cruz também afirmou que a vacina da Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, deve ser incluída nas opções de imunizante para a terceira dose, mas ainda não há um cronograma que assegure a oferta da vacina no Brasil. “Hoje, o que a gente tem disponível para as doses de reforço são as vacinas da Pfizer. São essas que a gente vai disponibilizar. Tão logo a gente tenha o cronograma de entrega da Janssen, elas poderão ser utilizadas como dose de reforço”, comentou.

Segundo o ministro interino, a pasta deve receber o cronograma de entregas oficial da farmacêutica belga ainda nesta semana. As entregas das doses, porém, só estão previstas para o último trimestre do ano. Atualmente, há 4,8 milhões de doses da vacina no país — 1,8 milhão foram adquiridos pelo Ministério da Saúde e 3 milhões foram doados pelos Estados Unidos, sem relação com o consórcio Covax Facility. O contrato assinado pelo governo estabelece a entrega de 38 milhões de vacinas até o fim do ano.

Mais 210 mortes e 14.423 casos

O Brasil registrou, ontem, 210 óbitos causados pela covid-19, de acordo com dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Com os registros, o país acumula 594.653 vidas perdidas para a doença. O levantamento do Conass, que compila dados de secretarias de Saúde dos 26 estados e do Distrito Federal apontou ainda 14.423 novos casos de coronavírus em 24 horas, com um total de 21.366.395 infectados desde o início da pandemia. Segundo o boletim, a taxa de letalidade está mantida em 2,8%. A média móvel de casos registrou um leve aumento e está em 16.961, enquanto a de mortes está estável, em 528. Geralmente, os dados aos domingos e segundas-feiras são menores devido à dificuldade de atualização dos sistemas pelas secretarias estaduais.

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

Mais violência na pandemia

Um levantamento feito no conjunto de favelas da Maré, no complexo do Alemão e na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, apontou que 83% dos moradores dessas comunidades ouviram tiros de dentro de suas casas durante a pandemia. Além disso, sete em cada 10 informaram terem presenciado ou souberam de operações policiais nessas áreas durante o período. O estudo mostrou ainda que quase três quartos dos moradores afirmaram sentir que houve aumento do número de casos de violência doméstica desde o início da pandemia.


Os dados fazem parte da pesquisa “Coronavírus nas favelas: a desigualdade e o racismo sem máscaras”. Realizada pelo coletivo Movimentos, a pesquisa contou com apoio do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) e entrevistou 955 moradores das três regiões.

Em junho do ano passado, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), restringiu operações nas favelas do Rio enquanto houver pandemia. As ações só podem ocorrer em “casos excepcionais”. O levantamento também apontou que 93% dos moradores dessas favelas tiveram ou conhecem alguém que contraiu o coronavírus.

A dificuldade em manter o isolamento social pode ter contribuído para isso. Segundo a pesquisa, mais da metade dos moradores entrevistados (54%) informou que não conseguiu manter o distanciamento social. Na média, três pessoas têm de dividir o mesmo cômodo das casas nas favelas entrevistadas. Na pesquisa, 55% dos que responderam informaram morar com alguém que integra grupo de risco.

O uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 foi incomum entre os moradores das favelas. Apenas 4% disseram ter usado ivermectina e hidroxicloroquina como “tratamento precoce” à covid-19. Entre os que responderam ao estudo, 76% declararam ter algum distúrbio do sono; 43,1% informaram ter algum nível de depressão; e 34% disseram que a ansiedade é o sentimento mais presente em relação à pandemia.