Filas de caminhões nos acostamentos de rodovias e o medo de um novo desabastecimento em entrepostos e centros de distribuição gerou um corre-corre da população em algumas cidades, principalmente para abastecer o carro em postos de combustíveis.
Para Moisés de Oliveira Costa, de 44 anos, caminhoneiro autônomo e grevista em 2018, os caminhoneiros que se manifestam nesta semana são "usados como fantoches por empresas que defendem apenas seus interesses".
"Esses caminhoneiros estão sendo usados como massa de manobra. O que acontece é que as empresas são a favor do Bolsonaro e estão fazendo uma paralisação pela queda dos ministros do STF. Algo sem lógica nenhuma para os caminhoneiros", afirmou.
Moisés, que trabalha como caminhoneiro desde os 21 anos e ajuda o pai na mesma profissão desde os 11, disse que os únicos autônomos que aderiram à paralisação foram os que não tiveram opção ou não entenderam o motivo do protesto.
"Temos dois cenários. O primeiro é o do cara que aderiu porque está no fim da fila de caminhões parados e não pode passar sob o risco de ter o veículo destruído pelos grevistas. O segundo é aquele que entrou de gaiato na onda dos outros, mas nem sabe o que está acontecendo", afirmou em entrevista à BBC News Brasil.
Ao contrário do que ocorreu em 2018, neste ano os protestos dos caminhoneiros perdeu força e não teve uma adesão em massa da categoria, explica ele. Moisés diz que não há pautas claras em defesa dos caminhoneiros, como redução do valor dos pedágios ou do diesel, e até mesmo o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu, por meio de um áudio, que a categoria voltasse ao trabalho e liberasse as rodovias.
Até o início da tarde desta quinta-feira (9), cinco rodovias permaneciam bloqueadas pelos manifestantes, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal e o Ministério da Infraestrutura. As interdições eram registradas nos Estados da Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina.
À tarde, um grupo de manifestantes, liderado pelo grevista conhecido como Chicão Caminhoneiro, se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro. O porta-voz do grupo disse que a paralisação continua. Ele afirmou à imprensa que os atos vão prosseguir até que eles se encontrem com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Ele não deu detalhes sobre o que seria conversado nesse encontro, mas afirmou que o presidente da República não fez nenhum pedido a eles ou vice-versa e que a pauta "sempre foi STF via Senado".
Moisés disse que essa é uma manifestação sem uma pauta clara a favor dos trabalhadores e da população e que isso pode levar ao descrédito da categoria em protestos futuros.
"Ninguém apresentou nenhuma reivindicação em prol dos caminhoneiros. Quem participa disso pode estar dando um tiro no pé da própria categoria. Eu trabalho para uma empresa em Osasco (Grande São Paulo) e nenhum dos 15 autônomos aqui aderiu. Todo mundo está trabalhando normalmente", afirmou.
Domínio da extrema direita
Moisés disse que a extrema direita se aproveitou de uma falta de representatividade política entre os caminhoneiros em 2018 para apoiá-los e, desde então, "dita as regras na categoria".
"Em 2018, a esquerda deixou a desejar, não se posicionou a nosso favor e a direita tomou conta. Os caminhoneiros autônomos não têm uma liderança fixa, então a extrema direita percebeu essa lacuna e se aproveita dela até hoje", afirmou.
Ele disse à reportagem que o maior exemplo disso é que a única pauta defendida pelos manifestantes neste protesto, segundo ele acompanha em grupos de caminhoneiros, é o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF). Essa pauta também foi defendida por boa parte dos manifestantes nos protestos a favor do presidente Jair Bolsonaro que ocorreram no dia 7 de Setembro, em diversas cidades do país.
O caminhoneiro Moisés de Oliveira Costa disse ainda que os atuais protestos são bancados por grandes transportadoras e que nenhum profissional está disposto a perder dinheiro se manifestando por direitos que não irão beneficiá-los.
"Se você prestar atenção, só tem caminhões de empresas lá em Brasília. Todos novos, que custam até R$ 1 milhão. Nenhum caminhoneiro tem dinheiro para comprar um carro desses e nem para ficar lá parado pedindo impeachment de ministro. Colegas disseram em um grupo de WhatsApp que empresas pediram para que eles fossem a Brasília sem carga para ficar lá fazendo protesto", disse à reportagem.
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