CAMINHONEIROS

Bolsonaro faz apelo para que radicais liberem as estradas

Setores da categoria decidem estrangular o país em apoio ao governo e para tentar forçar a mudança antidemocrática, que prevê fechamento do Congresso e do Supremo. Mas áudio remetido pelo presidente lembra dos efeitos que as barreiras podem ter na economia

Depois de várias horas com grupos de caminhoneiros apoiadores de Jair Bolsonaro fechando estradas em diversos estados, o presidente pediu, ontem à noite, que os radicais liberem o tráfego para que não haja impactos na economia. Os primeiros bloqueios foram erguidos depois dos atos do 7 de setembro, quando representantes da categoria acreditavam que seria dada a ordem para que o Congresso e o Supremo Tribunal Federal fossem tomados, e parlamentares e ministros da Corte destituídos a força.

Por meio de uma mensagem de áudio, Bolsonaro diz que o estrangulamento do trânsito causará impactos na economia — que vem apresentando vários problemas, agravados pelos discursos antidemocráticos do presidente no Dia da Independência, cujos reflexos imediatos foram a acentuada queda do Ibovespa (-3,78%) e a disparada do dólar (que fechou a R$ 5,32, uma alta de 2,89%). Segundo relatos que chegaram ao Palácio do Planalto, os bloqueios das estradas provocaram desabastecimento de alimentos e combustíveis em pequenos municípios do interior.

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“Fala para os caminhoneiros que são nossos aliados. Mas esses bloqueios atrapalham a nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo, em especial os mais pobres. Então, dá um toque nos caras, se for possível, para liberar. Para a gente seguir a normalidade”, pediu Bolsonaro no áudio, confirmado pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas.

Um dos chefes do movimento, Marcos Antônio Pereira Gomes, o Zé Trovão — que está com prisão preventiva decretada e foragido desde 3 de setembro —, divulgou vídeos que circularam entre os caminhoneiros. Em um, orientava que estava “autorizada a passagem de ambulâncias, impedindo a livre circulação de veículos de passeio, transporte de gêneros alimentícios, combustíveis e até o escoamento da produção agropecuária”.

A Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), uma das representantes da categoria, informou que “a pauta (fechamento das estradas) não está sendo discutida pelos caminhoneiros” e advertiu para a falta de liderança do movimento. “Mudamos a política de debate para algo mais técnico. Atualmente, temos várias pautas dentro do Congresso, dentro do próprio governo. Quem são esses que se dizem caminhoneiros?”, questionou.

Já a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) repudiou as barreiras e afirmou que as paralisações poderão causar sérios transtornos à atividade de transporte realizada pelas empresas, com graves consequências para o abastecimento de estabelecimentos de produção e comércio.

O presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o Chorão, avalia que o movimento tem participação de empresários de transporte e não de transportadores autônomos. “Os caminhoneiros estão sendo usados como massa de manobra. Existe um movimento com interesse de empresas e do agronegócio atrás do financiamento desses atos”, disse.

De acordo com dados da Polícia Federal Rodoviária (PRF), foram 173 pontos de concentração de manifestações e 53 de bloqueio em rodovias federais no Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. Em Goiás, Bahia, Maranhão, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins foram atos pontuais.

No Congresso, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e os deputados federais Rigoni (PSB-ES) e Tabata Amaral (sem partido-SP) questionaram, em ofício ao Ministério da Justiça, sobre as ações tomadas pela PRF para o desbloqueio das estradas.

O Ministério de Infraestrutura informou que os agentes rodoviários atuaram para desmobilizar bloqueios em oito estados. A previsão, segundo a pasta, é garantir o livre fluxo nas rodovias, com a tendência de fim das mobilizações até a manhã de hoje.