Antes mesmo de chegar o 7 de Setembro, na noite desta segunda-feira (6/9), manifestantes pró-Bolsonaro já haviam furado os primeiros bloqueios da Polícia Militar em Brasília, invadindo a Esplanada dos Ministérios.
Eles se posicionaram perto do Palácio do Itamaraty, a poucos metros do Congresso Nacional e da descida que dá acesso ao Supremo Tribunal Federal (STF) - instituição que é o principal alvo de ataques de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
Até carros e caminhões conseguiram descer até a metade avenida, apesar de estar proibida a entrada de veículos na Esplanada durante o 7 de Setembro. Vídeos divulgados pela imprensa e que circulam nas redes sociais mostram que a retirada das grades de contenção e barricadas não parece ter encontrado forte resistência.
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Poucos policiais aparecem nas imagens, tentando conversar com os manifestantes. Numa das cenas, um manifestante dá um "tapinha" nas costas de um policial, que ignora, segue andando e acompanhando o movimento. Enquanto isso, um homem grita: "Acabamos de invadir, acabamos de invadir. Polícia não dá conta de segurar o povo!".
Em outra imagem, um carro de polícia é usado para apoiar uma bandeira do Brasil e cartazes pró-Bolsonaro.
Mas será que a PM permitiu a invasão dos grupos pró-Bolsonaro antes do dia 7 de setembro? Os policiais tentaram impedir que manifestantes furassem os bloqueios?
Policiais não usaram armas não-letais de contenção na véspera
Durante a tentativa de impedir a entrada dos manifestantes na área bloqueada na segunda, não foram utilizados gás lacrimogênio, spray de pimenta e outros recursos não letais que a PM utiliza com frequência em manifestações na Esplanada dos Ministérios e pelo país.
Em maio deste ano, por exemplo, policiais chegaram a usar bala de borracha em diferentes cidades contra manifestantes que protestavam contra o governo de Jair Bolsonaro.
Gás lacrimogênio e spray de pimenta são comumente utilizados quando há protestos perto do Congresso Nacional, principalmente quando há tentativa de furar bloqueios e entrar na Câmara ou no Senado. Esses recursos não-letais também foram largamente utilizados nas manifestações de 2013, durante o governo Dilma Rousseff.
Após a invasão da Esplanada pelos manifestantes pró-Bolsonaro na noite de segunda, os PMs do Distrito Federal se concentraram em reforçar outro bloqueio, montado para impedir a passagem do Itamaraty para o Congresso Nacional e o STF.
Policiais formaram uma fileira atrás das grades e barreiras foram posicionadas para impedir o acesso.
PM disse à BBC News Brasil que, no início da manhã de terça, manifestantes estavam na Esplanada dos Ministérios, próximos ao Itamaraty, e que não houve nova tentativa de invasão de bloqueios.
Horas depois, no entanto, a imprensa local mostrou imagens de policiais militares utilizando spray de pimenta para conter manifestantes na Esplanada.
A BBC News Brasil perguntou à PM-DF e à Secretaria de Segurança do DF por que não foi possível conter o bloqueio e o motivo de não terem sido utilizados recursos não-letais, como spray e gás lacrimogênio, mas não obteve resposta aos questionamentos até a última atualização desta reportagem.
A Secretaria de Segurança Pública respondeu ao e-mail da BBC com uma nota na qual se limita a confirmar que houve o furo do bloqueio e a dizer que a "Polícia Militar do Distrito Federal restabeleceu a situação".
"Na noite desta segunda-feira (6), manifestantes romperam barreiras de contenção colocadas no início da via S1 para bloquear o trânsito de veículos. Nas reuniões, realizadas previamente com os organizadores dos grupos manifestantes, ficou definido que os maquinários autorizados a participar do ato popular estariam liberados para serem estacionados ao longo da via N1, na madrugada de terça-feira (7)", disse a Secretaria de Segurança do DF.
"Importante ressaltar que a autorização permitia apenas exposição dos veículos, como já realizado anteriormente em outras manifestações. A Polícia Militar do Distrito Federal restabeleceu a situação."
Mas, com o furo do bloqueio, os manifestantes ficaram muito mais próximos do STF e do Congresso Nacional. Justamente por causa do temor de invasão desses prédios, a Secretaria de Segurança do DF havia decidido dias atrás impedir a descida dos manifestantes pela Esplanada dos Ministérios, o que ocorreu com o rompimento das barreiras de contenção.
Ministro 'comemora' invasão
Integrantes do governo Bolsonaro e políticos apoiadores do presidente comemoraram o avanço dos manifestantes na Esplanada dos Ministérios, embora isso signifique o descumprimento das ordens estabelecidas pela Secretaria de Segurança do Distrito Federal.
O ministro da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário, postou um vídeo da invasão no Twitter e escreveu: "Lindo ver Brasília ser tomada por pessoas de bem. Pessoas ordeiras, que só querem viver num país mais justo, mais livre e mais democrático. Tá bonito de ver!!! Viva o 07 de setembro!!!".
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) comemorou a presença dos manifestantes. "Se ontem já estava assim, imagina hoje!". Na manhã desta terça (7), ele pediu, porém, que os protestos não sejam violentos e que não haja vandalismo.
"Neste 7 de setembro, o povo vai às ruas de todo o Brasil para lutar por LIBERDADE e DEMOCRACIA. E, como sempre, não defendemos nenhum ato violento, de vandalismo ou qualquer tipo de agressão. Vamos protestar em paz, com a força do povo trabalhador e ordeiro."
Já o ministro do STF Alexandre de Moraes, um dos principais alvos de ataques verbais e ameaças de bolsonaristas, postou no Twitter que: "ameaças vazias e agressões covardes não afastarão o Supremo Tribunal Federal de exercer, com respeito e serenidade, sua missão constitucional de defesa e manutenção da Democracia e do Estado de Direito."
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