OCUPAÇÃO

Verde e amarelo deram o tom do acampamento dos caminhoneiros na Esplanada

Caminhoneiros e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro ocuparam a Esplanada de segunda a sexta e contaram com apoio na estrutura e alimentação. Grupos eram separados de acordo com o local de origem

Tainá Andrade
postado em 12/09/2021 06:00
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O acampamento, instalado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que reuniu caminhoneiros autônomos e apoiadores de Jair Bolsonaro foi desfeito na sexta-feira (10/09), pela Secretaria de Segurança do DF. A ocupação acontecia desde a véspera do feriado, quando grupos furaram o bloqueio da Polícia Militar do Distrito Federal e se recusaram a sair. Sem números oficiais sobre a quantidade de pessoas que se estabeleceram no local, o acampamento tinha uma particularidade em sua decoração: o predomínio do verde e do amarelo.

Nas barracas, sacos de dormir espalhados pelo chão, nos adereços usados pelas pessoas ou nas vestimentas, as cores se repetiam. A camiseta da Seleção e os uniformes militares também eram itens fundamentais. Uma moça, vestida com a camisa verde e amarela, conversava com um grupo de rapazes. Com fala firme e doce ao mesmo tempo, sotaque mineiro, óculos grandes, cabelo amarrado e gloss nos lábios dizia “o nosso presidente pediu para pararmos as manifestações. Vamos aguardar o próximo passo que ele vai dar”. Ela é integrante da Associação de Produtor de Mandioca do Centro-Oeste e era uma das responsáveis por levar alimento ao acampamento. Sua fazenda fica em Unaí e tem plantações de mandioca e hidropônicos. “Veio arroz, feijão, carne, óleo, açúcar, café, pão, deve ter vindo uns 400kg de alimento pra cá”.

Em apuração feita pelo Correio, a maior parte da alimentação do acampamento veio de Unaí, em Minas Gerais. O Sindicato dos Produtores Rurais de Unaí apontou o nome de Elias Andrade de Oliveira, o Capitão Elias, ex-candidato a deputado federal e pré-candidato à prefeitura de Unaí, ambos pelo Partido Social Liberal (PSL), como possível financiador. O capitão concedeu entrevistas em rádios da cidade pedindo apoio da Polícia Militar e da comunidade à paralisação. Quando perguntado sobre tais afirmações, Elias afirmou que “vários empresários e comerciantes contribuíram para ajudar as pessoas a se alimentarem no local (acampamento em Brasília). Goiás e Mato Grosso participaram com a carne, e Unaí doou só os grãos”, explicou o capitão. No entanto, ele não forneceu os nomes das instituições. “É muita gente, e eu possuo a lista, mas não está comigo.”

Havia uma organização dentro do acampamento. As refeições eram servidas em pratos de marmita, no estilo self-service. Arroz, feijão, milho, batata e carne integravam o cardápio do último dia. A organização ficava em um ponto específico, atrás de um carro de boi.

“Divisão de classes”

Era perceptível uma “divisão de classes” entre os manifestantes, pessoas com aspecto mais simples trabalhavam, cozinhavam, descarregavam ou carregavam caminhões, estavam sempre em atividade. Essa ala, assim como o povo do campo e os caminhoneiros interagiam somente entre si. Enquanto isso, outros grupos pareciam estar em uma colônia de férias. Em clima de despedida, essas pessoas queriam aproveitar enquanto podiam, bebiam ao som de sertanejo no violão, acompanhado do coro dos companheiros.

Outra particularidade era a separação por grupos regionais. Ônibus de caravanas indicavam a origem dos grupos. Se identificavam, por exemplo, pelas camisas escritas “Vindos do Acre para defender Bolsonaro” e, também, pelas bandeiras dos estados, que expunham em sua parte no acampamento. Membros de uma caravana oriunda de Rondônia informaram que pagaram R$ 465 para estarem ali.

Nem todos que estavam no acampamento foram realmente manifestar. Um caminhoneiro autônomo, que não quis se identificar, trabalhava para uma transportadora. Ele chegou para levar os mantimentos de Unaí: em torno de quatro toneladas de arroz, feijão, batata, açúcar e sal. Segundo ele, a carga foi financiada por uma vaquinha realizada por produtores rurais de Unaí. Além dele, pessoas com a camisa da Aliança pelo Brasil (ALB) também tinham outro intuito: colher assinaturas suficientes para fundar seu partido. A informação é de um post no Twitter, publicado na véspera do Dia da Independência.

Outro grupo que marcou presença foram manifestantes adeptos ao movimento de extrema-direita, “Ucraniza Brasil”. Envolvidos em bandeiras de cores preta e vermelha, com um tridente no centro, são inspirados no grupo paramilitar de extrema direita Pravyi Sektor (Setor Direito), que se tornou partido político em 2013, na Ucrânia. É um movimento que se tornou moda entre os adeptos a Bolsonaro.

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 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

A nota oficial da Secretaria do Estado de Segurança Pública do DF (SESP-DF) informou que até o fim da sexta-feira a área da Esplanada dos Ministérios estaria liberada. Sem fazer uso da força, os policiais fizeram o monitoramento do local até que o último manifestante se retirasse.

Apesar disso, algumas pessoas reclamavam que, desde quando instalaram o acampamento, no dia 6, policiais militares do DF teriam agido com truculência. “A polícia está todo dia nos incomodando. Já chegaram a jogar gás de pimenta em famílias no meio da madrugada. Somos civilizados, então, estamos saindo na paz, mas não teve papo nenhum, só pediram para sairmos hoje (sexta) de manhã”, disse uma mulher que manifestava, mas não quis ser identificada.

No momento da desocupação, o Correio presenciou um homem sendo detido por desacato, mas liberado em seguida. Os manifestantes insistiram que tinham autorização para ficar no local, o que não foi confirmado pela SESP-DF. “O pessoal da organização nos informou que temos autorização para ficar aqui até o dia 20. Essa é uma ocupação legal, é nossa terra, do povo brasileiro. Exigimos um mandado de desocupação da polícia, mas não teve papo, só chegaram hoje (sexta) de manhã e pediram para nós sairmos”, disse outro manifestante. (TA)



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