Antes mesmo de chegar o 7 de Setembro, na noite desta segunda-feira (6/9), manifestantes pró-Bolsonaro já haviam furado os primeiros bloqueios da Polícia Militar em Brasília, invadindo a Esplanada dos Ministérios.
Eles se posicionaram perto do Palácio do Itamaraty, a poucos metros do Congresso Nacional e da descida que dá acesso ao Supremo Tribunal Federal (STF) - instituição que é o principal alvo de ataques de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
Até carros e caminhões conseguiram descer até a metade avenida, apesar de estar proibida a entrada de veículos na Esplanada durante o 7 de Setembro. Vídeos divulgados pela imprensa e que circulam nas redes sociais mostram que a retirada das grades de contenção e barricadas não parece ter encontrado forte resistência.
- STF se prepara para risco de ataques ao prédio e 'todos os cenários possíveis' no 7 de setembro
- Brasil vive ameaça de 'insurreição' no 7 de Setembro, diz carta assinada por políticos de 27 países
Poucos policiais aparecem nas imagens, tentando conversar com os manifestantes. Numa das cenas, um manifestante dá um "tapinha" nas costas de um policial, que ignora, segue andando e acompanhando o movimento. Enquanto isso, um homem grita: "Acabamos de invadir, acabamos de invadir. Polícia não dá conta de segurar o povo!".
Em outra imagem, um carro de polícia é usado para apoiar uma bandeira do Brasil e cartazes pró-Bolsonaro.
Mas será que a PM permitiu a invasão dos grupos pró-Bolsonaro antes do dia 7 de setembro? Os policiais tentaram impedir que manifestantes furassem os bloqueios?
Policiais não usaram armas não-letais de contenção na véspera
Durante a tentativa de impedir a entrada dos manifestantes na área bloqueada na segunda, não foram utilizados gás lacrimogênio, spray de pimenta e outros recursos não letais que a PM utiliza com frequência em manifestações na Esplanada dos Ministérios e pelo país.
Em maio deste ano, por exemplo, policiais chegaram a usar bala de borracha em diferentes cidades contra manifestantes que protestavam contra o governo de Jair Bolsonaro.
Gás lacrimogênio e spray de pimenta são comumente utilizados quando há protestos perto do Congresso Nacional, principalmente quando há tentativa de furar bloqueios e entrar na Câmara ou no Senado. Esses recursos não-letais também foram largamente utilizados nas manifestações de 2013, durante o governo Dilma Rousseff.
Após a invasão da Esplanada pelos manifestantes pró-Bolsonaro na noite de segunda, os PMs do Distrito Federal se concentraram em reforçar outro bloqueio, montado para impedir a passagem do Itamaraty para o Congresso Nacional e o STF.
Policiais formaram uma fileira atrás das grades e barreiras foram posicionadas para impedir o acesso.
PM disse à BBC News Brasil que, no início da manhã de terça, manifestantes estavam na Esplanada dos Ministérios, próximos ao Itamaraty, e que não houve nova tentativa de invasão de bloqueios.
Horas depois, no entanto, a imprensa local mostrou imagens de policiais militares utilizando spray de pimenta para conter manifestantes na Esplanada.
A BBC News Brasil perguntou à PM-DF e à Secretaria de Segurança do DF por que não foi possível conter o bloqueio e o motivo de não terem sido utilizados recursos não-letais, como spray e gás lacrimogênio, mas não obteve resposta aos questionamentos até a última atualização desta reportagem.
A Secretaria de Segurança Pública respondeu ao e-mail da BBC com uma nota na qual se limita a confirmar que houve o furo do bloqueio e a dizer que a "Polícia Militar do Distrito Federal restabeleceu a situação".
"Na noite desta segunda-feira (6), manifestantes romperam barreiras de contenção colocadas no início da via S1 para bloquear o trânsito de veículos. Nas reuniões, realizadas previamente com os organizadores dos grupos manifestantes, ficou definido que os maquinários autorizados a participar do ato popular estariam liberados para serem estacionados ao longo da via N1, na madrugada de terça-feira (7)", disse a Secretaria de Segurança do DF.
"Importante ressaltar que a autorização permitia apenas exposição dos veículos, como já realizado anteriormente em outras manifestações. A Polícia Militar do Distrito Federal restabeleceu a situação."
Mas, com o furo do bloqueio, os manifestantes ficaram muito mais próximos do STF e do Congresso Nacional. Justamente por causa do temor de invasão desses prédios, a Secretaria de Segurança do DF havia decidido dias atrás impedir a descida dos manifestantes pela Esplanada dos Ministérios, o que ocorreu com o rompimento das barreiras de contenção.
Ministro 'comemora' invasão
Integrantes do governo Bolsonaro e políticos apoiadores do presidente comemoraram o avanço dos manifestantes na Esplanada dos Ministérios, embora isso signifique o descumprimento das ordens estabelecidas pela Secretaria de Segurança do Distrito Federal.
O ministro da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário, postou um vídeo da invasão no Twitter e escreveu: "Lindo ver Brasília ser tomada por pessoas de bem. Pessoas ordeiras, que só querem viver num país mais justo, mais livre e mais democrático. Tá bonito de ver!!! Viva o 07 de setembro!!!".
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) comemorou a presença dos manifestantes. "Se ontem já estava assim, imagina hoje!". Na manhã desta terça (7), ele pediu, porém, que os protestos não sejam violentos e que não haja vandalismo.
"Neste 7 de setembro, o povo vai às ruas de todo o Brasil para lutar por LIBERDADE e DEMOCRACIA. E, como sempre, não defendemos nenhum ato violento, de vandalismo ou qualquer tipo de agressão. Vamos protestar em paz, com a força do povo trabalhador e ordeiro."
Já o ministro do STF Alexandre de Moraes, um dos principais alvos de ataques verbais e ameaças de bolsonaristas, postou no Twitter que: "ameaças vazias e agressões covardes não afastarão o Supremo Tribunal Federal de exercer, com respeito e serenidade, sua missão constitucional de defesa e manutenção da Democracia e do Estado de Direito."
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.