Na data que marca a celebração do Dia da Amazônia, as atenções estão voltadas para um objetivo principal: a preservação da floresta. O desmatamento acumulado do bioma brasileiro entre agosto de 2020 e julho de 2021 foi o segundo maior desde 2015, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número de focos de queimadas entre janeiro e agosto de 2021 foi o 3º maior dos últimos 10 anos, abaixo apenas dos dois anos anteriores.
O bioma abrange nove países (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela), correspondendo a cerca de 60% do território brasileiro. Além disso, a floresta também guarda 10% da biodiversidade do planeta e da água doce em estado líquido do mundo, graças à bacia do Rio Amazonas, a maior em volume de água no planeta.
Comemorado neste domingo (5/9), o Dia da Amazônia surgiu como uma forma de chamar atenção para esse bioma e conscientizar a sociedade acerca de sua importância. A data foi escolhida em homenagem à criação da Província do Amazonas, por Dom Pedro II, em 5 de setembro de 1850.
Floresta em chamas
Dentre os cinco primeiros colocados no ranking de focos de incêndio do Inpe, quatro têm a floresta amazônica como principal bioma: Amazonas, Pará, Maranhão, Tocantins e Roraima estão entre os estados que mais registraram queimadas em 2021. O pior município do país também está na região norte: Lábrea, com 2.559 focos.
Alberto Setzer, coordenador da equipe de queimadas no Inpe, ressalta que os números ainda podem piorar. “A maior parte dos focos de incêndio na Amazônia sempre foi historicamente observada no mês de setembro, que é justamente o mês que entramos agora. Como os piores meses ainda estão pela frente, estamos começando o segundo tempo dessa partida de futebol e ainda podemos ter prorrogação”, alerta.
Segundo o pesquisador, existem dois componentes para diminuir o número de queimadas e desmatamentos na Amazônia: a técnica e a política. “A parte técnica está resolvida há décadas e os dados de satélites são corretos e estão disponíveis para qualquer um. Basta utilizá-los, ir ao local e interceptar, terminar, controlar ou punir as pessoas que estão realizando ações ilícitas. O que falta é determinação política”, explica.
Setzer cita ainda o dado de outubro de 2019, mês com menor números de focos de incêndio da série de 33 anos. “Esse foi também o período em que atuou de maneira mais marcante a operação Verde Brasil, decreto que, dentre outras coisas, incentivou a atuação de brigadistas e do Ibama. Esse é um precedente em que se provou que, havendo a determinação de controlar o uso do fogo e os desmatamentos ilegais, os números de ações ilícitas caem muito”, concluiu o pesquisador.
Desenvolvimento sustentável
Na sexta-feira (3/9), foi lançada a plataforma PlenaMata, da Natura e construída em conjunto com Mapbiomas, InfoAmazonia e Hacklab. A ferramenta monitora o desmatamento na Amazônia em tempo real. O PlenaMata apresenta um contador de árvores derrubadas por minuto e hectares desmatados, a partir de informações atualizadas diariamente e com a possibilidade de gerar mapas e gráficos interativos, inclusive com recortes territoriais. O objetivo é chamar a atenção para a urgência do tema e mobilizar a sociedade em torno de iniciativas de conservação e regeneração da floresta.
Disponível em português e inglês, o PlenaMata tem como foco o monitoramento da Amazônia legal brasileira, que representa cerca de 60% do bioma.
Levantamento disponível na página mostra que, apenas em 2020, a área desmatada chegou a 1 milhão de hectares. Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, explica que o cenário preocupante foi intensificado nos últimos 30 anos, mas a taxa de desmatamento tem crescido ainda mais expressivamente desde 2017.
“Se continuarmos assim, vamos afetar os mecanismos de autopreservação da floresta, como a reciclagem da água para produção de chuvas”, ressalta. “Por isso, é indispensável engajar o setor público e privado, bem como a sociedade civil, ao oferecer uma ferramenta acessível para apoiar a articulação coletiva contra o desmatamento e pelo fortalecimento de iniciativas bem-sucedidas de conservação e regeneração”, comentou.
A diretora global de Sustentabilidade da Natura, Denise Hills destaca que a perda de biodiversidade é uma das grandes ameaças à economia global, juntamente com as mudanças climáticas, como foi apontado pelo Fórum Econômico Mundial, em janeiro de 2020. “O mercado internacional de cadeias da biodiversidade representa cerca de U$ 175 bilhões por ano, porém as cadeias amazônicas têm, neste total, apenas 0,2% de participação em exportações. Só conseguiremos mudar esse cenário apostando em tecnologias sustentáveis que promovam oportunidades de negócios justos, tanto do ponto de vista social, econômico quanto ambiental", observa a diretora.
Denise Hills reforça a importância de aliar o desenvolvimento à sustentabilidade. “Por isso, seguimos trabalhando para o fortalecimento de uma economia da floresta em pé e das comunidades agroextrativistas, por meio de inovações e oportunidades de negócios capazes de valorizar e conservar a sociobiodiversidade brasileira e, ao mesmo tempo, gerar riqueza e prosperidade para todos em bases sustentáveis."
Em postagem no Twitter, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, comandante do Conselho da Amazônia Legal, celebrou a data e ressaltou que 84% da mata nativa está preservada. "Nesse sentido, cabe a cada um de nós brasileiros contribuir para que a exploração dos recursos seja feita de forma sustentável", disse, em vídeo gravado para a rede social.
Hoje comemoramos o #DiadaAmazônia. Nesta data, em 1850, D Pedro II criou a província da Amazônia, vislumbrando sua importância para o Império. Reflito a sua importância para o????????e o ????, sua riqueza, a fauna e a flora e a população brasileira lá residente. Viva a nossa Amazônia. pic.twitter.com/zFz7CMFnFv
— General Hamilton Mourão (@GeneralMourao) September 5, 2021
QUEIMADAS NA AMAZÔNIA
Série histórica do total de focos ativos detectados pelo satélite de referência
(de 1998 até 02/09/2021)
* Estagiários sob supervisão de Mariana Niederauer
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