Uma quadrilha composta por aproximadamente 50 criminosos fortemente armados invadiu e atacou três agências bancárias do centro de Araçatuba (SP), na madrugada de ontem. Três pessoas morreram, uma delas integrante do grupo de assaltantes, e cinco ficaram feridas. Segundo relato de moradores nas redes sociais, após o ataque aos bancos e troca de tiros com a polícia, pedestres e motoristas foram abordados e feitos reféns. Vídeos que circularam pela internet mostram pessoas amarradas em carros servindo de escudos humanos para que a quadrilha pudesse fugir.
Segundo o secretário de Segurança Pública de São Paulo, coronel Álvaro Batista Camilo, dois suspeitos foram detidos — um deles ferido. Em nota, a Polícia Militar informou que os criminosos deixaram explosivos em pelo menos 14 pontos da cidade, inclusive em um caminhão abandonado em frente a uma das agências atacadas. Um desses artefatos explodiu e mutilou um ciclista, que perdeu os pés e os dedos das mãos — as autoridades não souberam informar se a bomba foi detonada por um sensor de movimento ou se por meio de sinal de celular. Os criminosos teriam, ainda, utilizado drones para monitorar a ação e se esquivar dos policiais, tanto na chegada à cidade quanto na fuga para a zona rural.
Pelo menos duas agências bancárias tiveram seus caixas danificados por ação de explosivos, e outras tiveram disparos de arma de fogo. Durante a fuga, carros utilizados no assalto foram deixados para trás com munição e armas de grosso calibre, como fuzis e “miguelitos” — grampos de metal retorcido utilizados para furar pneus em caso de perseguição policial.
Ainda segundo a polícia, os criminosos incendiaram veículos em locais estratégicos para dificultar o acesso à cidade. A quadrilha ateou fogo em automóveis deixados nas pontes do Rio Tietê em Buritama e Santo Antônio do Aracanguá, no trevo de Guararapes, na praça de pedágio em Glicério e no centro de Araçatuba.
Pavor
O designer gráfico Amylton Quirino de Oliveira, 50 anos, estava na cidade durante o assalto e relatou ter começado a ouvir tiros contínuos a partir da meia-noite. Mais tarde, passou, também, a ouvir explosões muito fortes. Da janela de seu hotel, no centro, ele diz ter visto um caminhão incendiado para impedir o trânsito, carros passando em alta velocidade e pessoas correndo. “O som das bombas explodindo era muito forte, parecia uma zona de guerra”, diz.
Um dos reféns, um motorista de aplicativo que serviu de escudo humano, relatou os momentos de pânico. “Na hora que me colocou no capô do carro, ele (o bandido) ainda falou: ‘se você soltar, se você se jogar, eu paro o carro e dou um tiro na sua cara’. Eu acho que eu nunca segurei num lugar tão forte igual eu segurei aquela hora. Eles passavam em lombada, passavam em depressão da rua, e o carro pulava, e eu segurando. Tanto é que uma hora que eles passaram próximo ao calçadão, na hora que teve um confronto com a polícia, levei um de raspão. A única coisa também que aconteceu, o único machucado que tive”, relatou.
O porta-voz da Polícia Militar de São Paulo, capitão Alexandre Guedes, afirmou que Ricardo Bortolucci, proprietário de um posto de combustível na cidade, foi uma das pessoas que acabou sendo alvejada e morta, pois havia descido do carro para filmar a ação criminosa. Ele acrescentou que aproximadamente 400 policiais se empenharam no cerco à quadrilha. Ainda de acordo com o capitão, os bandidos receberam informações privilegiadas para executarem o ataque, tal o grau de organização que demonstraram.
O prefeito de Araçatuba, Dilador Borges, pediu que as pessoas passassem o dia em casa e suspendeu as aulas na cidade. Pediu, também, que a população evitasse manusear qualquer artefato estranho que encontrasse, porque poderiam ser bombas deixadas para trás pela quadrilha.
Tipo de crime é conhecido como “novo cangaço”
A ação de quadrilhas especializadas em grandes assaltos, como o de ontem em Araçatuba, é conhecida nos meios policiais como “novo cangaço”. O termo faz referência aos bandos itinerantes que atacavam quartéis e roubavam instituições financeiras em pequenas cidades do sertão nordestino, no século 19 e começo do século 20. Os ataques atuais envolvem grupos de 20 a 40 bandidos fortemente armados. Quase sempre os alvos estão em cidades pequenas, de efetivo policial reduzido. Dependendo do alvo, as quadrilhas usam armas de guerra, como metralhadora calibre ponto 50, e recursos tecnológicos, como drones.