Um ano depois de enfrentar problemas com o Ministério da Saúde para tentar fechar contratos de fornecimento de vacinas contra a covid-19, a Pfizer e a BioNTech anunciaram, ontem, um acordo com a farmacêutica brasileira Eurofarma para produzir o imunizante contra o novo coronavírus no Brasil. A capacidade de produção nacional, que deve começar no próximo ano, é de mais de 100 milhões de doses, e a ideia é distribuir para toda a América Latina. A Comirnaty (nome comercial da vacina) é a única com base na tecnologia do RNA mensageiro oferecida no país.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, atribuiu o fechamento do acordo da Pfizer com a Eurofarma à credibilidade que o Brasil desfruta junto à farmacêutica americana. Porém trata-se de uma visão otimista, que desconsidera a demora do país em responder os oferecimentos de vacina, no ano passado, que poderiam ter antecipado a imunização dos brasileiros contra o novo coronavírus. A CPI da Covid mostrou, em junho, mais de uma centena de tentativas para negociar o fármaco com o governo brasileiro foram ignoradas.
Atualmente, o país utiliza as vacinas da Pfizer no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19, mas as doses vêm prontas do exterior. Em junho, o imunizante foi incluído oficialmente no Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), o impacto econômico obtido com o uso do imunizante, juntamente com a vacina da AstraZeneca, proporcionará uma economia de até R$ 150 bilhões aos cofres públicos nos próximos cinco anos.
“Até esta semana, entregamos mais de 50 milhões de vacinas Pfizer ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). E, até o final de setembro, mais 50 milhões. E, hoje, mais um passo importante: esperamos que, por meio dessa iniciativa, possamos ampliar o nosso trabalho no combate à pandemia”, disse a presidente da Pfizer Brasil, Marta Díez.
Ambiente liberal
Em um novo momento da relação entre o país e a empresa, o ministro da Saúde ressaltou os pontos que atraíram a companhia ao Brasil. “Por que a Pfizer quis vir para o Brasil? Porque a Pfizer é inteligente e sabe que, neste país, tem um governo liberal, um governo que respeita a legislação, um governo que quer participar nas áreas fundamentais como saúde e educação, mas quer deixar a iniciativa privada trabalhar”, disse Queiroga, no evento que celebrou o acordo entre as farmacêuticas.
De acordo com o ministro, a vinda da Pfizer ao Brasil trará um novo cenário para o sistema de saúde e ampliará a capacidade de geração de emprego e renda. Ele ainda ressaltou que a aprovação da reforma tributária suscitará mais o investimento privado. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, também estava presente no anúncio e agradeceu a Pfizer pela confiança no Brasil.
“Existem diversos outros países no mundo na expectativa de sediar essa fábrica, que, em um primeiro momento, pode fabricar (vacinas) para a imunização nacional. Mas não tenho dúvida de que em pouco tempo serão distribuídas vacinas para toda a América Latina”, observou.
O Brasil já comprou 200 milhões de doses da vacina da Pfizer, que serão entregues até o final do ano. Para o próximo ano, ainda não há nenhum acordo feito entre o Ministério da Saúde e a farmacêutica americana.
Mas uma nova leva de vacinas pode ser comprada diante da necessidade de aplicação de uma “dose extra” para aumentar a resposta imune de indivíduos com o esquema vacinal completo. O ministério anunciou, nesta semana, a disponibilização de dose de reforço nos idosos com mais de 70 anos e nas pessoas imunossuprimidas. O público-alvo dessa terceira aplicação, no entanto, pode aumentar.