MEIO AMBIENTE

Preservação irrita Mourão

Para vice-presidente, discurso de líderes estrangeiros sobre a Amazônia é "quase uma intervenção" na soberania territorial. Ele defende que as nações industrializadas indenizem o país pela conservação dos biomas e para ajudar no sustento da população que neles vive

O vice-presidente Hamilton Mourão disse, ontem, em webinar promovido pelo Instituto General Villas Boas, que a sustentabilidade representa uma ameaça à soberania nacional do Brasil. “Quando a gente vê discurso de líderes de países estrangeiros sobre a Amazônia, é uma intervenção”, disse.


Para ele, que também é presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, as críticas à política ambiental do atual governo fazem parte de propaganda da comunidade internacional contra o país. “A propaganda é uma forma de intervenção na nossa soberania. Existe uma confluência de interesses. É aquela articulação da esquerda mundial contra o governo Bolsonaro porque é um governo de direita”, definiu.


Mourão se opôs ao que chamou de “interdependência econômica” porque, em sua visão, limita o campo de atuação do país dentro de seus próprios domínios. Mas defendeu que nações industrializadas paguem ao Brasil por “serviços ambientais” de conservação.


“Se eu tenho esse território protegido que captura toneladas de carbono, eu tenho que receber o recurso disso. Aí eu tenho condições de colocar o investimento correto para o ribeirinho, que vai manter a gleba em condições e receber um salário digno que o permita ter uma renda e viver em melhores condições”, disse.


O vice também atacou entidades do terceiro setor e as associou a “interesses pouco republicanos” e ao que considera um ambientalismo radical. No entanto, admitiu a existência de problemas relacionados aos ilícitos ambientais no território que compreende a Amazônia e projetou redução de 40% do desmatamento na região para o mês de agosto.


Mourão também defendeu papel de liderança do Brasil na região em discussões dos temas de interesse global. “Nosso destino manifesto é ser a democracia liberal mais próspera ao sul do Equador”, declarou no evento, que contou também com a participação de defensores de pontos de vista opostos ao consenso científico em torno das mudanças climáticas, como o general Luiz Eduardo Rocha Paiva, diretor de geopolítica e conflitos do Instituto Sagres.

Barroso dá aval para protestos indígenas

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou ontem um pedido do governo federal para adiar a manifestação indígena que acontece em Brasília por causa do julgamento que vai decidir sobre a demarcação de terras no país. A Advocacia-Geral da União (AGU), que representa judicialmente os interesses do Planalto, acionou a Corte, na semana passada, pedindo que a mobilização fosse transferida para uma “data futura e mais prudente, em um momento de maior segurança epidemiológica”, em razão da pandemia. Depois de pedir esclarecimentos para a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que coordena o acampamento com mais de seis mil pessoas, Barroso concluiu que a entidade adotou “protocolos sanitários cuidadosos”.