O ministro da Educação, Milton Ribeiro, acredita que a universidade federal “deveria ser para poucos”. Ele defendeu esta posição em entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil, na última segunda-feira. Para ele, as universidades não são “tão úteis para a sociedade” e que vê nos institutos federais — entidades eminentemente técnicas — o papel de protagonista da educação no futuro do Brasil. Além disso, ele acusou os reitores das universidades federais de serem “esquerdistas”.
“Com todo o respeito que tenho aos motoristas, uma profissão muito digna, mas tem muito engenheiro, muito advogado dirigindo Uber porque não consegue a colocação devida. Mas, se ele fosse um técnico em informática, estaria empregado porque há uma demanda muito grande”, disse Ribeiro, que citou a Alemanha como exemplo de país que investe mais em ensino técnico.
“Acho que o futuro são os institutos federais, como é na Alemanha hoje. Na Alemanha, são poucos os que fazem universidade. A universidade, na verdade, deveria ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade”, completou.
Ribeiro disse, ainda, que viu avanço no diálogo com os reitores e que há conversas com todos os 69 das universidades federais. “Como eu vim da área da educação, aprendi que não é no meio da guerra que a educação pode progredir. Se a gente quiser discutir com professores a ideologia deles, a gente talvez nunca chegue a um consenso. Cada um tem a sua. Foi essa a primeira conversa que eu tive com alguns reitores das universidades federais”, justificou-se.
Apesar de assegurar que respeita a posição ideológica dos gestores universitários, Ribeiro se contradisse ao afirmar que reitor de uma entidade pública não pode ser “esquerdista” ou “lulista”. “Tenho pelo menos uns 20 a 25 reitores com que converso plenamente. Dez deles eu trouxe para visitar o presidente da República. Não digo que precise ser bolsonarista, mas não pode ser esquerdista, lulista. As universidades federais não podem se tornar comitê político de um partido, nem de direita e muito menos de esquerda”, apontou.
Nomeações
A nomeação de reitores durante o atual governo tem sido alvo de críticas de instituições acadêmicas, já que o presidente da República nomeou, mais de uma vez, como reitor, candidatos não escolhidos pela comunidade e pelos conselhos da universidade. Em setembro do ano passado, Bolsonaro nomeou o terceiro colocado da consulta pública da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) como reitor. Em novembro, o presidente nomeou o terceiro colocado da lista tríplice para o comando da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Para a professora Maria Beatriz Luce, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e diretora da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), o conceito do ministro sobre para quem as universidades se destinam “evidencia preconceitos, desrespeito e contradição”. “Não é respeitosa de preceitos fundamentais da democracia como a liberdade de pensar e de manifestação; afronta princípios constitucionais que regem a Educação como liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar, e pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas”, avaliou.
Ela salientou, ainda, que “para nós, que compreendemos a educação como um ‘bem público’ que contribui para a promoção da equidade e da justiça social, edificada na ética, no respeito às culturas e ao meio-ambiente, é ultrajante o que foi dito (pelo ministro) sobre os profissionais da educação, as universidades federais e os reitores”.
*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi
Não digo que (o reitor) precise ser bolsonarista, mas não pode ser esquerdista, lulista. As universidades federais não podem se tornar comitê político
Milton RIbeiro, ministro da Educação