O desmatamento na Amazônia continua em alta. Dados divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, mostram que o acumulado dos últimos 12 meses (de agosto do ano passado a julho deste ano) de alertas de desmatamento na Amazônia Legal chegou a 8.712km², a segunda maior quantidade desde 2015, início da série histórica. Além disso, observando dados de janeiro a julho, foi o pior cenário desde 2016, uma vez que os números de alerta, em 2015, começaram a ser compilados apenas no segundo semestre.
Se comparados o acumulado de 2020 a 2021 com o período anterior, será possível observar uma ligeira queda de 5,47%, apontada por especialistas como irrelevante — tanto por sinalizar apenas uma pequena flutuação quanto pelo fato de que, se for confrontado o acumulado dos últimos anos, a degradação do bioma é muito mais significativa.
Por exemplo: de agosto de 2019 a julho de 2020, o número de alertas foi 34,6% maior que o período anterior. O sistema de alertas (Deter) é um levantamento de evidências de alteração da cobertura florestal. Os números consolidados depois são divulgados no fim do ano, pelo sistema Prodes.
Redução pífia
Diretor executivo do WWF-Brasil, Mauricio Voivodic afirma que a redução é desprezível, tendo em vista que, no período anterior, o aumento foi extremamente alto. Conforme observou, os números mostram, na prática, o que se vê do ponto de vista de gestão ambiental no governo do presidente Jair Bolsonaro. “Desmatamentos ilegais, invasões de terras públicas, garimpos ilegais, madeireiros ilegais — esses grupos fazem parte da base eleitoral do presidente. Os ilegais, que destroem a floresta, estão prosperando. Os números do Deter mostram isso, são prova cabal”, apontou.
Porta-voz do Greenpeace, Cristiane Mazzetti ressalta que os alertas comprovam que “o desmatamento está fora de controle”. “Se olharmos a área devastada nos últimos 12 meses, é 1,2 milhão de campos de futebol. Ainda mais crítico é que um terço desse desmatamento ocorreu em terras públicas, frequentemente alvo de grilagem”, afirma.
Para piorar a situação, Cristiane lembra que a Câmara dos Deputados aprovou, há poucos dias, o texto-base do Projeto de Lei (PL) 2.633/20, apelidado de PL da Grilagem. “Enquanto isso, os órgãos ambientais seguem enfraquecidos. As poucas medidas são comprovadamente ineficazes e o Congresso tem discutido coisas negativas que estimulam mais desmatamento, conflito e invasão de terras públicas na Amazônia”, salientou.
Professor titular de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Eduardo Viola explica que a imagem do Brasil por causa do desmatamento da Amazônia é “das mais negativas imagináveis. “Continua assim. São cada vez mais profundamente negativas, e isso não muda. Porque as decisões deveriam ser opostas ao que está acontecendo”, ressaltou.
Nesta semana, Bolsonaro esteve com o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, emissário do governo de Joe Biden. Entre os assuntos tratados, estava justamente a pauta ambiental na Amazônia, severamente criticada pelo atual presidente norte-americano.
Avanço da destruição
O desmatamento na Amazônia continua em alta. A ligeira redução, de agosto do ano passado a julho deste ano, em relação ao período anterior, é vista por especialista como natural e sem motivo para qualquer comemoração:
Amazônia Legal – nove estados:
Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins
Alertas de desmatamento
Agosto/2015 a julho/2016: 5.377 km²
Agosto/2016 a julho/2017: 4.639 km²
Agosto/2017 a julho/2018: 4.571 km²
Agosto/2018 a julho/2019: 6.844 km²
Agosto/2019 a julho/2020: 9.216 km²
Agosto/2020 a julho/2021*: 8.712 km²
Janeiro a julho
2016: 3.182km²
2017: 1.790km²
2018: 2.809km²
2019: 4.702km²
2020: 4.740km²
2021*: 5.027km²
Fonte: Deter/Inpe
* Não estão incluídos os dados do dia 31 de julho de 2021