PANDEMIA

Morte de Tarcísio Meira reacende debate sobre terceira dose

A medida, que já é adotada em Israel e no Chile, por exemplo, é avaliada pelo Ministério da Saúde, mas, segundo especialistas, ainda deve demorar para ser incorporada no Programa Nacional de Imunização (PNI)

Maria Eduarda Cardim
Gabriela Chabalgoity*
postado em 14/08/2021 06:00
 (crédito: Artur Meninea/TV Globo)
(crédito: Artur Meninea/TV Globo)

Por causa da morte do ator Tarcísio Meira, que já havia tomado duas doses da vacina contra a covid-19, o debate sobre a necessidade de uma terceira aplicação do imunizante dominou as redes sociais. A medida, que já é adotada em Israel e no Chile, por exemplo, é avaliada pelo Ministério da Saúde, mas, segundo especialistas, ainda deve demorar para ser incorporada no Programa Nacional de Imunização (PNI) — já que o Brasil precisa concluir o esquema vacinal com as duas doses ou a dose única. Até o momento, apenas 22% da população do Brasil pode ser considerada protegida contra o novo coronavírus.

Ao Correio, o Ministério da Saúde disse que acompanha os estudos sobre a efetividade dos fármacos e “caso seja necessária a administração de doses adicionais das vacinas, o tema será levado à Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis, para discutir os ajustes da orientação da aplicação”. Por enquanto, não há nenhuma orientação da pasta quanto a terceira dose.

A pasta realiza um estudo com 1,2 mil voluntários para avaliar a necessidade do reforço para quem tomou a CoronaVac. A pesquisa, feita com pessoas com mais de 18 anos que receberam as duas doses do imunizante fabricado pelo Instituto Butantan há, pelo menos, seis meses, vai verificar a intercambialidade do fármaco com outros imunizantes oferecidos à população.

Fase anterior
A infectologista do Hospital Sírio-Libanês de Brasília, Valéria Paes, acredita que a dose de reforço, como é chamada a terceira das vacinas, é uma possibilidade. “Nós temos pessoas que não tomaram nem a primeira dose e outra parcela muito grande que está imunizada com apenas uma dose. Então, nós ainda estamos em uma etapa anterior, o que reforça a necessidade de manutenção de todas as medidas possíveis de prevenção. O reforço virá, mas não é uma indicação para este momento”, ressaltou.

Para o infectologista Julival Ribeiro, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SIB), mais dados e estudos são necessários antes da tomada de decisão “para ver quais são as respostas de uma terceira dose”. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também aprovou, até o momento, três pedidos para realização de estudos clínicos considerando a administração de doses extras — dois da AstraZeneca e um da Pfizer.

A infectologista Valéria Paes ressalta que nem mesmo a vacina, a melhor proteção para evitar a covid-19, é 100% eficaz. Para ela, a morte de Tarcísio Meira reforça a necessidade de se manter todas as medidas de proteção. “Ainda precisamos reduzir a taxa de transmissão do vírus no país, com o uso de máscaras, ventilação de ambientes, distanciamento social e higiene das mãos”, afirmou.

Os especialistas consultados pelo Correio ainda chamam atenção para a questão ética que envolve a aplicação de uma terceira injeção contra a covid-19, enquanto há países que ainda não aplicaram nem a primeira em grande parte da população — como, aliás, salientou a Organização Mundial da Saúde (OMS).

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi

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