O vice-presidente Hamilton Mourão admitiu, ontem, que o governo possivelmente não cumprirá a meta prevista para a redução do desmatamento na Amazônia. Segundo ele, a diminuição deve ficar na faixa de 4% a 5%, e não em 10%, como calculara.
“Fechou o ciclo (medido pelo Prodes) no dia 31 de julho. Provavelmente não vou cumprir aquilo que eu achava que seria o nosso papel, de chegar a 10% de redução do desmatamento. Acho que vai dar na faixa de 4% a 5%. É uma redução muito pequena, muito irrisória, mas já é um caminho andado”, justificou.
O vice se referiu ao Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que produz as taxas anualizadas de desmatamento por corte raso na Amazônia — e cujo saldo final será apresentado somente no final deste ano.
Mourão pretendia registrar uma diminuição mais significativa do desmatamento no bioma a fim de o governo Jair Bolsonaro passasse uma mensagem à comunidade internacional — que vem cobrando ações efetivas pela preservação não apenas da Amazônia, mas de todos os biomas do país — de que há o compromisso com o combate à devastação e aos crimes ambientais.
A pífia redução comprova o equívoco das operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) na região, que vêm sendo promovidas pelo governo antes mesmo que Mourão assumisse o comando do Conselho da Amazônia — e entrassem em rota de colisão com o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Mas, de acordo com os especialistas, a grande falha da colocação dos militares é a falta de especialização deles no combate ao desmatamento criminoso e às derrubadas — e o enfraquecimento de organismos de fiscalização, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Crise hídrica
“A piora dos índices do desmatamento na Amazônia tem ligação direta com a formação de chuvas e massas de ar, que auxiliam na distribuição da umidade por todo o território brasileiro. Isso tende a deixar ainda mais crítico os níveis dos reservatórios de água, gerando um agravamento da crise hídrica”, explicou Henrique Costa, CEO da Accell Solutions, empresa que atua na distribuição de medidores de água, luz e gás em toda a América Latina.
Já o diretor-executivo do Instituto Escolhas, Sergio Leitão, disse que governo trabalhou para que o desmatamento aumentasse a partir do desmonte de todo aparato de fiscalização, com a redução da presença de fiscais em campo e a retirada de instrumentos fundamentais para a detectar a degradação.
“Um exemplo disso é a retirada da condição de, ao se apreender uma máquina utilizada para escavar uma área e realizar atividade de mineração ilegal, a máquina apreendida seria imediatamente destruída. Ao fazer isso, o governo contratou esse aumento do desmatamento, permitindo que a região, hoje, mostre péssimos indicadores. Quando a Amazônia vai mal, o Brasil vai mal na imagem mundial”, explicou.
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