Pouca gente sabe que 97% da soja produzida no Brasil é transgênica. Como as cultivares (espécies de plantas que foram melhoradas devido à alteração ou introdução, pelo homem, de uma característica que antes não possuíam) possuem resistência a certos tipos de pragas, os produtores brasileiros adotaram os transgênicos em seus cultivos até com intuito de aumentar a produtividade. É o que explica André Ferreira Pereira, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Cerrados, em entrevista ao CB.Agro desta sexta-feira (30/7). O programa é uma realização do Correio Braziliense em parceria com a TV Brasília.
“As cultivares transgênicas tem altas produtividades, trazem também resistências e alto potencial produtivo, é uma ferramenta adicional que o produtor pode ou não adotar. O produtor brasileiro adotou amplamente e agora já temos outras fases dessas transgenias. De 2013 para cá nós tivemos a ampla adoção da tecnologia intacta, que além da resistência herbicida, trouxe agregação de uma proteína do Bacillus Thuringiensis, que controla algumas lagartas”, afirma o especialista.
Para que o cultivo da soja seja eficiente, o pesquisador aconselha que o produtor pense em tudo antes do cultivo, ou seja, na escolha da variedade ao manejo final, da colheita até o armazenamento, tudo que envolve a produção. Não é descartado também o conhecimento de pragas e de doenças que podem aparecer no plantio.
“Então, se o produtor não escolhe bem a semente, não planta bem. Ele já vai ter uma população inicial de plantas aquém do recomendado para aquela cultivar, se a gente desejaria 200 mil plantas por hectare e fica só com 100 mil plantas por hectare, não há uma compensação para chegarmos naquela produtividade potencial. Mesmo que ele tenha obtido aquela população desejada, se ele não maneja bem a praga, não maneja bem aquela doença, não conhece aquela praga ou doença, isso tudo envolve essa questão relacionada ao potencial agronômico das culturas”, detalha André.
Meio ambiente
Um dos pontos defendidos pela Embrapa é o de cuidado ambiental. Para isso, desenvolveram uma técnica com inoculantes que são bactérias que promovem a fixação biológica do nitrogênio. Segundo André Ferreira, o Brasil economiza cerca de R$ 15 bilhões por ano com essa tecnologia.
“São temáticas novas que a Embrapa e várias empresas têm adotado, porque a planta está ali, fixando o carbono, fixando o nitrogênio, o produtor está fazendo o plantio direto, contribuindo para melhoria do ambiente de produção. Tudo isso são questões relacionadas à melhoria da qualidade do solo, do ambiente. São questões importantes hoje”, destaca.
Outra preocupação da Embrapa são as questões relacionadas à sanidade das plantas. Segundo o pesquisador, o desafio do produtor é ter alta produtividade. Logo, devem ser escolhidas variedades que tenham esse histórico, incluindo àquelas que são resistentes a doenças como a nematoides, vermes do solo.
“A agregação de alguma tolerância a esses nematoides é algo bastante importante, e a Embrapa tem se preocupado muito com isso. Nas áreas de produção, em algum momento, o produtor vai ter esse potencial produtivo reduzido em função desses vermes, que estão presentes no solo. Então, buscar um cultivare que traga essa agregação também de resistência ou de tolerância é algo bastante importante para ele chegar na produtividade desejada”, pontua o pesquisador.
Embrapa Cerrado
A Embrapa trabalha com a cultura de soja desde o início da organização no Brasil, em 1973. O braço Embrapa Cerrado completou 46 anos. Foram anos de trabalho para que a soja fosse adaptada para o clima brasileiro, visto que é uma cultura chinesa. Várias empresas e instituições realizam pesquisas não somente para melhoramento da cultura da soja, mas também da melhoria dos solos.
“Tudo isso permitiu ao produtor a viabilidade de se produzir nessa região, tudo isso favoreceu essa expansão da cultura pelo Brasil, pelo Cerrado brasileiro. E nós temos altas produtividades sendo atingidas, produtores que são referências, produtores que estão fazendo essa construção, essa evolução de produtividade. Temos pequenos produtores até grandes empresas que já abriram capital. Vários desses produtores colocam a cultura da soja em algum momento, talvez hoje sendo a cultura principal dos produtores que trabalham com grãos”, ressalta.
Tecnologias
Há dois anos, a Embrapa lançou duas tecnologias para conferir às plantas tolerância à ferrugem asiática da soja, a principal doença das culturas atualmente, visto que os fungicidas têm em média 70% de eficiência. Chamada de tecnologia shield, ela tem o papel de agregar a genética da planta para que ela tolere a evolução da doença.
“O produtor vai continuar fazendo o manejo dos fungicidas, mas ele vai ter um aliado, essa agregação da tecnologia shield para audar no manejo da ferrugem asiática da soja. Uma outra tecnologia é a tecnologia block, são variedades que trazem consigo tolerância ao percevejo, inseto sugador. A planta quando está no final do ciclo, depois que ela floresce e começa a ter essa formação de grãos, esse inseto causa danos irreversíveis, pode até matar a futura semente”, explica.
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro