O Corpo de Bombeiros de São Paulo informou, na manhã desta sexta-feira (30/7), que irá fazer uma vistoria na Cinemateca para descobrir as causas do incêndio que atingiu uma área aproximada de 1000m² do prédio na noite desta quinta-feira (27/7). O fogo foi controlado com a ajuda de 70 bombeiros e 18 viaturas. A Polícia Civil e a Polícia Federal investigam o caso. A suspeita é que o fogo tenha começado na manutenção de um ar condicionado.
De acordo com a capitã Karina Paula Moreira, do Corpo de Bombeiros, o fogo atingiu três salas com arquivos. "Só teremos certeza após a perícia, mas, provavelmente, não foi preservado nada", disse ao O Globo.
O Corpo de Bombeiros divulgou fotos que mostram a situação que ficou o local após o fogo. Nas imagens, é possível ver rolos de filmes espalhados e queimados.
Privatização
Nesta sexta-feira, apenas um dia após o incêndio, a Secretaria Especial da Cultura publicou um edital para seleção de entidade privada sem fins lucrativos para gerir as atividades da Cinemateca Brasileira. O edital foi publicado no Diário Oficial da União e prevê que a gestão privatizada será por cinco anos com um aporte de R$ 10 milhões anuais.
O abandono
Artistas e funcionários já vinham avisando sobre a situação que estava a Cinemateca. No último dia 20, o Ministério Público Federal alertou o governo federal para riscos de incêndio no local. O alerta foi feito durante uma audiência de uma ação que o MPF move contra a União pelo abandono da Cinemateca.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, a área da Cinemateca tem cerca de 8.400m², sendo 6.356m² de área construída.Segundo a Prefeitura de São Paulo, o local tem o maior acervo cinematográfico da América do Sul, com cerca de 250 mil rolos de filmes.
Repercussão
Famosos e autoridades usaram as redes sociais para lamentar o descaso com acervo do audiovisual brasileiro. O diretor Kleber Mendonça Filho lembrou do incêndio que atingiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018. "Um incêndio atingiu a Cinemateca Brasileira na noite passada, em São Paulo. Quatro toneladas de material foram perdidos. Após o incêndio no Museu Nacional do Rio e múltiplos pedidos de ajuda na comunidade do cinema (20 dias atrás, eu falei sobre isso em Cannes), nada foi feito. Não parece que isso foi um acidente", disse.
A atriz Leandra Leal disse que é "inaceitável" perder o acervo do audiovisual dessa forma. "É muito revoltante perder parte do acervo da cinemateca, é inaceitável e triste. Estou rezando para que os bombeiros consigam controlar o fogo e salvar algo da nossa identidade", afirmou.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que este é o resultado do "desprezo pela arte e pela memória do Brasil".