A população negra brasileira é a maior vítima de criminosos que comercializam pessoas e lucram com atentados contra a dignidade das vítimas. Dados levantados pelo Ministério da Justiça apontam um grave cenário de tráfico humano no país. De acordo com as informações levantadas em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), 1.811 brasileiros foram traficados entre 2017 e 2020. Porém, tais dados podem ser bem maiores, em razão de subnotificações e de crimes não desvendados. Das vítimas, 72% são negras, destacando uma preferência dos criminosos por pessoas afrodescendentes.
O sequestro das vítimas tem como maiores motivações a imposição de trabalho escravo e a exploração sexual. A vítima geralmente é atraída com promessas de emprego fácil, promessas de vida de luxo no exterior ou a realização de sonhos — como ser jogador de futebol. O tráfico ocorre tanto no âmbito internacional, como a vítima sendo levada para o exterior, como em deslocamentos nacionais, onde a pessoa capturada é enviada para outro estado e mantida em cárcere privado em locais isolados ou sob ameaça para não manter contato com amigos, parentes ou com as autoridades.
As informações se baseiam em dados colhidos em unidades do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), registros no Ligue 180 — que recebe denúncias de violência contra a mulher — e registros do Sistema Único de Saúde (SUS). Do grupo atendido no sistema público de saúde, 58,5% eram negras e 31,7%, brancas. Dessas possíveis vítimas, 37,2% correspondem a crianças e adolescentes.
Maioria de homens
Das vítimas atendidas no CREAS, a maioria é homem, com 1.188 vítimas registradas. Outras 388 denúncias recebidas pelo 180, referentes ao tráfico de mulheres, apontam que 61% dos casos foram para fins de exploração sexual. Além dos dados já apresentados, durante a produção do relatório, após quatro anos de coleta de dados, de acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT) houve 15.857 aliciamentos. A maioria (14,80%) no estado de São Paulo, seguido de Minas Gerais (14,52%).
O Ministério da Justiça reconhece que os casos devem estar subnotificados, já que algumas vítimas não denunciam por medo ou vergonha. Por isso, a necessidade de estabelecer políticas públicas de combate ao tráfico de pessoas, assim como avançar nas políticas afirmativas para proteger a população negra. “Estamos trabalhando em parceria com os estados, instituições públicas e a sociedade civil para esclarecer aos cidadãos os possíveis riscos que possam torná-los vítimas do tráfico humano, sejam promessas de trabalho fácil e lucrativo ou a entrega de passaportes e demais documentos a terceiros que possam retê-los em outros países”, alerta o secretário Nacional de Justiça, Claudio de Castro Panoeiro.