Amazônia

Coordenador da Funai incentiva 'meter fogo' em indígenas isolados

Em áudio vazado, Henry Charlles Lima da Silva, coordenador da Fundação Nacional do Índio no Vale do Javari (AM), estimula o povo marubo a enfrentar os povos indígenas isolados

Em áudio vazado, o tenente da reserva do Exército Henry Charlles Lima da Silva, coordenador da Funai no Vale do Javari (AM), incentiva o povo marubo a atacar indígenas isolados em caso de serem “importunados” por eles. A gravação é de uma reunião com o povo marubo. O coordenador sugere que vai enfrentar os indígenas isolados junto aos marubos.

“Os problemas que têm com relação a vocês e os índios isolados, vocês trazem para mim, eu sou o responsável, e eu vou entrar em contato com o pessoal da Frente e pressionar a Frente ‘ó vocês tem que cuidar dos índios isolados porque se não eu vou junto com os marubo meter fogo nos isolados”, disse na gravação.

Semanas antes, segundo relatos dos marubos, os indígenas isolados tentaram sequestrar uma mulher de 37 anos de uma aldeia próxima. Ela foi encontrada quatro horas depois, com as mãos amarradas. Segundo relatos, teria sido a terceira tentativa de sequestro. O aparecimento de povos indígenas isolados na região está sendo investigado pela Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari.

“Eu, sinceramente, não estou aqui para desarmar ninguém. Também não estou aqui para levantar bandeira de paz, porque eu passei muito tempo da minha vida evitando a guerra. Mas se a guerra vier, nós também não vamos correr. Esta é a minha orientação que deixo para o povo marubo”, diz Henry Charlles em outro trecho.

Mediação de conflitos

Em nota, a Fundação Nacional do Índio afirma que o discurso do coordenador regional Henry Charlles Lima da Silva não representa a posição oficial da instituição. A Funai informa que acompanha o relato dos Marubo do rio Ituí em relação à presença de índios isolados no entorno de suas aldeias. Em nota, a fundação assegura que tem se esforçado para evitar qualquer conflito interétnico na região.

“A Funai ressalta que sua atuação é pautada na mediação de conflitos, redução de tensionamentos e formulação de estratégias para apaziguar as relações entre os indígenas. A fundação destaca, ainda, que não compactua com qualquer conduta ilícita, bem como com juízos açodados, emitidos antes que seja concluída a rigorosa apuração dos fatos”, diz a instituição, em nota.

A fundação afirma que três equipes foram às aldeias Marubo em abril, junho e julho e que unidades da Base de Proteção Etnoambiental Ituí da organização estão atentas ao caso.

* Estagiários sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza