SAÚDE

Homens: o verdadeiro sexo frágil da saúde

Sete anos a menos de expectativa de vida. Esse é um dos preços pagos pela população de sexo masculino no Brasil por medo ou omissão em procurar ajuda médica, seja ela preventiva, seja ao perceber problemas que podem evoluir para a morte

Machismo, medo ou simplesmente desleixo. Definir os motivos pelos quais os homens não cuidam da saúde na mesma medida que as mulheres é uma daquelas questões que só Freud, ou nem mesmo ele, pode explicar. Entre as consequências do descuido, uma expectativa de vida, em média, sete anos menor que a das mulheres, conforme revelam estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Brasil. Mas, infelizmente, não é apenas a corrida aos consultórios médicos que traz prejuízos à saúde masculina. Muitos problemas poderiam ser evitados a partir de uma atenção especial à higiene.

Na semana em que o Dia do Homem, 15 de julho, foi celebrado, o Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL), criador da Campanha Novembro Azul, lançou a carta aberta aos gestores de saúde, parlamentares, agências reguladoras, operadoras de saúde e imprensa como forma de chamar atenção para o tema e cobrar ações efetivas em prol da saúde masculina no Brasil.

Por meio da carta, o instituto pretende ampliar o acesso dos homens às unidades de saúde e aos tratamentos disponíveis e às políticas públicas e de educação que contribuam para a diminuição das mortes na juventude; e para o crescimento da consciência de cada homem sobre a importância de cuidar do seu corpo e de sua mente.

Câncer de pênis
Se, para muitos homens, o maior tabu é procurar o proctologista e realizar o fatídico teste do toque, para tantos outros buscar auxílio ao perceber algum desconforto ou mudança na região peniana é ainda maior. De acordo com o Instituto Lado a Lado, no Brasil, cerca de 1,6 mil homens precisam amputar o órgão todos os anos, em virtude do câncer de pênis. A patologia tem maior incidência em indivíduos a partir dos 50 anos, mas que pode se desenvolver em qualquer faixa etária. Só em 2020, a enfermidade acometeu mais de 65 mil homens e, em 2019, matou cerca de 16 mil.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a manifestação clínica mais comum do câncer de pênis é uma ferida ou úlcera persistente, ou também uma tumoração localizada na glande, prepúcio ou corpo do pênis que, diferentemente do câncer de próstata, tem uma evolução silenciosa.

Marlene Oliveira, presidente do Lado a Lado pela Vida, explica que, muitas vezes, o paciente é resistente em buscar ajuda e realizar os exames e a doença acaba avançando: “O câncer de pênis é um câncer que, em muitos casos, é prevenível com higiene básica e acompanhamento médico frequente, por exemplo. Mas, quando falamos em saúde do homem, precisamos entender a resistência que ainda existe em procurar os serviços de saúde. O homem, às vezes, tem uma lesão, não procura atendimento, o quadro vai evoluindo e, quando ele enfim procura ajuda, já é uma fase mais avançada da doença e já não há muito o que fazer”, explica. Outro fator de risco são as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), principalmente o HPV. Diversos estudos indicam que este vírus costuma aparecer com o tumor.

Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) revela que 55% dos homens acima de 40 anos deixaram de ir a alguma consulta durante a pandemia. “Se antes já era difícil fazer com que os homens tivessem algum protagonismo para cuidar da sua saúde, nesse período, as coisas complicaram, o que potencializou o cenário de diagnósticos tardios no país", afirma Marlene.

Números como esse já podiam ser observados em 2019, como nos dados da Pesquisa Nacional de Saúde, divulgada pelo IBGE, que mostram que a proporção de mulheres que consultou um médico naquele ano foi superior à de homens (82% contra 69%), ainda que ambos os gêneros tenham taxas similares de cobertura em planos de saúde.

Amputação

De acordo com o Instituto Lado a Lado, no Brasil, cerca de 1,6 mil homens precisam amputar o órgão todos os anos, em virtude do câncer de pênis. A patologia tem maior incidência em indivíduos a partir dos 50 anos, mas que pode se desenvolver em qualquer faixa etária. Só em 2020, a enfermidade acometeu mais de 65 mil homens e, em 2019, matou cerca de 16 mi.

Vaidade masculina

Se, por um lado, os homens deixam de lado cuidados básicos com a saúde, correndo risco de morte, por outro, a procura pela solução de problemas estéticos tem aumentado. Somente as cirurgias plásticas cresceram 30% no ano de 2020, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).

A dermatologista Renata Vasconcellos, referência em tricologia clínica, área da medicina que cuida especificamente da saúde do cabelo, acredita que esse movimento em que os homens estão cada vez mais vaidosos, vai além das intervenções cirúrgicas e também passa pela relação com o cabelo. Com os bons resultados dos novos tratamentos capilares, os homens recuperaram a vontade de cuidar de seus fios e fazer tratamentos preventivos de queda, por exemplo.

Segundo a médica, os pacientes são aqueles que sonham em reconquistar a autoestima perdida por conta de problemas capilares, sendo o mais comum entre eles a calvície. Além disso, os homens estão mais vaidosos, fazendo tratamentos estéticos e se cuidando cada vez mais. “O cabelo, com certeza, entra nesse contexto. Acredito que isso acontece por causa do acesso à informação, disseminação dos bons resultados dos tratamentos modernos para a calvície e do transplante capilar. Hoje, está muito mais acessível fazer esses procedimentos que trazem resultados naturais”, comenta Renata

As mulheres ainda procuram mais o consultório da tricologista, mas a quantidade de pacientes do sexo masculino vêm crescendo exponencialmente na faixa dos 35 a 40 anos, que estão tratando cada vez mais cedo do problema. O que é tido como crucial para se obter bons resultados, conforme avalia a especialista. A médica ainda comenta que a população masculina está preocupada em manter a aparência jovem, retardar a evolução da calvície, corrigir falhas e aumentar o volume capilar. Mas ainda cometem muitos erros quando o assunto é a saúde do cabelo.

* Estagiárias sob supervisão de Michel Medeiros