Um incêndio florestal de grandes proporções ameaça um movimentado destino turístico na Chapada dos Veadeiros. Desde a tarde desta segunda-feira (12/7), as chamas consomem uma área particular de preservação ambiental, de mais de 200 hectares de Cerrado nativo, na Serra do Paranã, em São João d'Aliança. Na localidade, estão situados famosos atrativos naturais, como a Cachoeira do Label (a maior do estado de Goiás, com 187m de altura) e o Complexo Veadeiros. Moradores da ecovila Condomínio Habitat se mobilizaram para fazer o primeiro combate ao fogo, ainda durante a tarde, mas, à noite, receberam o apoio de agentes do Corpo de Bombeiros e da Rede Contra Fogo, um grupo de voluntários treinados para esse tipo de situação.
O combate às chamas se estendeu madrugada adentro. Uma pequena base foi organizada em uma das chácaras ameaçadas pelo incêndio. No local, funciona a pousada de Silza Freire. "É uma cena terrível. A fumaça é sufocante e toma conta de tudo. Lutamos contra o fogo durante a noite inteira, estamos exaustos. Afastamos um pouco o perigo de atingir a casa, mas os focos de incêndio continuam em outros pontos, pois a serra é de difícil acesso. Apesar dos esforços de todos, o incêndio se mantém fora de controle", conta.
Proprietário do Sítio Rupestre, onde desenvolve atividades de escalada para grupos de turistas, Márcio Barros foi o primeiro a noticiar as chamas. Ele fez o alerta por meio de um grupo de WhatsApp da comunidade e, em seguida, em companhia de mais uma pessoa, iniciou o combate às chamas. "Foi uma ação um tanto desesperada, pois estava assistindo a grandes labaredas vindo em nossa direção. Subimos a serra e tentamos conter o fogo, mas acabei sufocado pela fumaça e tive de recuar. Quando a equipe da Rede Contra Fogo chegou, à noite, tivemos algum avanço positivo, especialmente nas proximidades das casas, mas o fogo continua devastando a vegetação em outras direções", relata.
A região é rica em biodiversidade, com inúmeras espécies vegetais típicas do Cerrado – bioma extremamente ameaçado de extinção – e centenas de espécies de animais silvestres, como lobos, antas, veados, porcos-espinhos e uma infinidade de aves.
Marcello Clacino, 36 anos, proprietário da RPPN Reserva Bellatrix , onde está localizada Cachoeira do Label, explica que as chamas ainda não impedem o acesso ao local, mas o risco é iminente. "Temos uma base com uma série de equipamentos para combate às chamas, como abafadores, sopradores e bombas costais de água, obtidos por meio de parceria com a Rede Contra Fogo. No entanto, sempre é necessária mais ajuda, pois o relevo da serra dificulta o combate às chamas pelo chão. Para debelar completamente o fogo de forma mais rápida, seria preciso o apoio de aeronaves lançando água por cima, mas regiões mais distantes do Parque Nacional, como é o nosso caso, não recebem essa prioridade, infelizmente", comenta.
As equipes dos bombeiros se dispersaram no início do manhã e prometeram voltar com reforços no fim do dia. No momento, o combate as chamas é realizado por voluntários da comunidade, mas o fogo segue se alastrando em diferentes direções, pois o contingente mobilizado é insuficiente para encerrar o incêndio. Novas equipes de bombeiros prometeram retornar ao logo do dia. Nesta época do ano, a seca é severa e favorece a ocorrência de queimadas, muitas vezes iniciadas de forma criminosa.
A reportagem tentou contato com autoridades locais, mas ainda não obteve retorno. Em breve, mais informações. O espaço segue aberto para manifestações.