Várias secretarias de Saúde anunciaram, nesta sexta-feira (2/7), que vão analisar os registros de aplicação de vacina da AstraZeneca contra a covid-19 fora da validade. Levantamento feito pelo jornal Folha de S.Paulo apontou cerca de 26 mil notificações de aplicações de doses vencidas, apesar de o Ministério da Saúde e os estados afirmarem ter distribuído os lotes dentro do prazo. Já as prefeituras negam injeções irregulares e afirmam haver erros de registro — e preveem fazer nova checagem dos dados —, sobretudo no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI). Não há registros de problemas semelhantes com fármacos de outros fabricantes.
O levantamento apontou que foram aplicadas doses fora da validade em 1.532 cidades. A cidade que mais teria aplicado vacinas vencidas foi Maringá (PR), que negou a possibilidade. De acordo com as autoridades municipais de saúde do município, o que aconteceu foi que a data de lançamento no sistema de informações está diferente da data da aplicação.
“Todas as doses recebidas foram aplicadas antes do vencimento. Ao realizar a transmissão das informações para Brasília, ocorreram problemas que já foram detectados e notificados ao Ministério da Saúde, no dia 11 de junho, para correção. O ministério respondeu aos nossos e-mails e a correção no sistema será feita”, explicou a coordenadora imunobiológica da Secretaria de Saúde de Maringá, Edilene Pires de Oliveira.
A Secretaria da Saúde paulista disse ter distribuído as doses dentro da validade e informou ter identificado 4.772 possíveis aplicações fora do prazo no sistema. Segundo o estado, dados da plataforma de monitoramento “sugerem” que imunizantes vencidos foram usados em 315 cidades. O governo não afasta a hipótese de parte dos casos se tratar de erro no momento do registro. “A pasta está informando as prefeituras, que são as responsáveis pela aplicação das vacinas, para realizar busca ativa desta população”, explicou.
A Prefeitura de São Paulo disse que a verificação de validade passa por “tripla checagem: no recebimento, na distribuição e na aplicação da vacina, inclusive com a apresentação do frasco” à pessoa que tomará a vacina. Afirmou, ainda, que vai rastrear os dados dos 7 milhões de vacinados da capital. Guarulhos, na Grande São Paulo, disse ter identificado 96 registros “com data de aplicação posterior à data do vencimento”. Do total, 86 foram em uma instituição particular do município, já notificada. Os outros 10, argumenta, foram erros de digitação.
Já a Secretaria da Saúde do Ceará explicou que o próprio Ministério informou que houve um erro na embalagem de um dos lotes da vacina citado como vencido. “Apesar de as doses terem vindo direto do laboratório produtor (AstraZeneca), nas embalagens primária e secundária constam vencimento em 31/05/2021. No entanto, nas notas de fornecimentos do Sistema de Insumos Estratégicos em Sáude (Sies), do Ministério, o prazo de validade está 31/5/2022. A informação da Rede de Frio Nacional é de que a validade correta é 31/05/2022”, destacou.
Saiba Mais
Investigação
Por conta das discrepâncias das informações, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) informaram que todos os casos de doses vencidas aplicadas na população serão investigados. “Não está descartado erro do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações, que, desde o início da Campanha de Vacinação, apresenta instabilidade no registro dos dados”, informaram os conselhos, em nota conjunta.
O Conass e o Conasems ressaltaram, ainda, que todos os profissionais destacados pelos municípios para aplicação das vacinas adotam as boas práticas de vacinação, inclusive a checagem do prazo de validade.
De acordo com a orientação do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO), caso alguma vacina seja administrada após o vencimento, essa dose não deverá ser considerada válida — deve-se recomeçar o ciclo vacinal, respeitando um intervalo de 28 dias entre as doses. A pessoa deverá ser acompanhado pela Secretaria de Saúde local. De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunologia, a vacina fora do prazo não é prejudicial. “A administração de dose vencida não implica risco à saúde. No entanto, como não há certeza se pode haver prejuízo a eficácia, recomenda-se repetir a dose”.