A informação de que 26 mil doses vencidas da vacina AstraZeneca foram aplicadas em 1.532 municípios brasileiros trouxe apreensão aos vacinados pelo imunizante fabricado na Índia e gerou dúvidas sobre o que fazer para saber se está entre aqueles que receberam as doses com validade expirada e como proceder caso realmente tenha recebido a dose fora do prazo. Confira um passo a passo para lidar com o caso:
Como descubro qual é o lote da minha vacina?
Primeiro, é preciso checar se você recebeu alguma dose de um lote vencido. Para isso, localize, no cartão de vacinação, o número do lote. No Brasil, há diferentes modelos de carteiras de vacina, no entanto, na imunização contra a covid-19, geralmente o lote vem logo abaixo da informação sobre qual é a dose a ser tomada. O lote é composto por número e letras, distribuídas em sequência aleatória.
Achei o código do lote. Como saber se ele estava vencido quando tomei a vacina?
Após localizar o código do lote no cartão de vacina, confira se os números e as letras correspondem com os dos lotes vencidos. Depois disso, é necessário verificar a data de vencimento dos imunizantes e checar se ela realmente é anterior ao dia em que você recebeu a aplicação. As informações podem ser consultadas na imagem abaixo. Os oito lotes vencidos tiveram a validade expirada entre 29 de março e 4 de junho. Confira as informações:
Atenção: você só foi imunizado com uma dose inapropriada, caso tenha se vacinado após a data de vencimento.
Tomei uma dose vencida e agora?
É preciso se revacinar em pelo menos 28 dias. Essa é a orientação do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19. O período é o prazo de segurança para que a dose vencida não entre em conflito com a que será recebida.
Para ter certeza de como o estado em que você mora lidará com o erro, vá até o posto de vacinação em que tomou a dose vencida, leve a carteira de vacinação e informe o erro.
O imunizante vencido faz mal à saúde?
De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o recebimento de uma dose vencida não traz riscos à saúde. Por outro lado, não há certeza de que a aplicação fora do prazo de validade traz prejuízo à eficácia da vacina. Por isso, a SBIm recomenda a repetição do processo de vacinação.
A organização também disse que “não é possível afirmar se a dose adicional pode aumentar a possibilidade de eventos adversos”.
O que dizem os órgãos de saúde sobre as vacinas vencidas?
O Ministério da Saúde afirmou que a responsabilidade da gestão da validade das doses das vacinas é dos estados. “As doses entregues para as centrais estaduais devem ser imediatamente enviadas aos municípios pelas gestões estaduais. Cabe aos gestores locais do SUS o armazenamento correto, acompanhamento da validade dos frascos e aplicação das doses, seguindo à risca as orientações do Ministério”, escreveu em nota.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também informou que "não participa da logística de aplicação de imunizantes", apenas avalia a qualidade, segurança e eficácia das vacinas. A autarquia esclareceu ainda que não recebeu qualquer pedido de extensão de prazo de validade de vacinas AstraZeneca e que vacinas com validade expirada "não têm garantias de eficácia e segurança".
Já a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que produz a vacina no Brasil, informou que os lotes vencidos não foram produzidos no país. Uma parte dos lotes foram importados do Instituto Serum, da Índia e entregues pela Fiocruz ao Ministério da Saúde. Outras foram fornecidos pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS).
De acordo com a Fundação, todos os lotes foram repassados dentro do prazo previsto, em janeiro e fevereiro deste ano. A Fiocruz ainda diz que está, junto ao Programa Nacional de Imunizações, em contato com o fabricante indiano para colher "orientações a serem dadas pelo Programa àqueles que tiverem tomado a vacina vencida".
Alguns estados informaram que trabalham para verificar se houve, de fato, a aplicação de doses vencidas. É o caso do Paraná, estado em que foram registradas mais vacinas vencidas (3.536 doses). De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde paranaense, “caso se confirme a denúncia, a prefeitura deverá programar uma nova dose da vacina para aqueles que tenham recebido imunizante com data de validade vencida”.
Já a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) diz que a informação não procede. Segundo dados registrados no Ministério da Saúde, 77 doses foram aplicadas com atraso no DF. Na avaliação da pasta, o que ocorreu foi uma falha que levou a “este desencontro de informações”. A explicação da pasta é de que os servidores que registraram a aplicação no sistema podem ter esquecido de alterar a data e registrado fora do prazo de validade.
Falta de orientações oficiais causa dúvidas em imunizados
Maria das Dores Farias, 82 anos, tomou uma vacina de um dos oito lotes vencidos, o 4120Z005. No entanto, a idosa tomou a dose antes do prazo de validade expirar -- em 14 de abril, de acordo com os dados do Ministério da Saúde. Mesmo assim, a neta de Maria, a enfermeira Ana Carolina Rodrigues, conta que irá procurar o local em que a avó se vacinou, a Unidade Básica de Saúde 01 da Candangolândia, para verificar se Maria não corre o risco de não estar imunizada.
Ana conta que o que traz mais dúvidas é o fato de que no cartão de vacinação a validade está registrada como 10 de fevereiro de 2023. Para ela, a falta de orientações do órgão máximo da Saúde no país a deixa mais insegura sobre o que fazer. “Não dá para entender direito, ainda mais porque o Ministério da Saúde ainda não emitiu nota oficial. Espero que consiga resolver na segunda-feira (5/7), quando levá-la de novo”, diz. Ela também afirma que a avó não era para ser vacinada no posto da Candangolândia e lamenta a falta de sorte.
“O engraçado é que no dia vacina, que ela tomou a vencida, os imunizantes do posto perto de onde moramos, no Guará, acabaram. Uma moça que estava na fila me disse que iria para o posto da Candangolândia porque lá tinha muitas vacinas. Eu fui também e acabou que minha vó tomou a vacina vencida”, lembra. “Antes eu tivesse esperado o outro dia para ver se tinha chegado mais doses”, acrescenta.