Com a perspectiva de retomada das aulas em agosto, a vacinação de adolescentes tornou-se uma das controvérsias do programa brasileiro de imunização contra a covid-19. Ao menos nove governos estaduais avaliam ou têm previsão de imunizar jovens entre 12 e 17 anos. Esse público só pode receber a vacina produzida pelo laboratório Pfizer, pois esse imunizante é o único com essa autorização no Brasil.
O Ministério da Saúde é favorável à inclusão desse grupo de jovens nos calendários de vacinação. Em comunicado assinado na terça-feira (28/07), junto com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), a pasta informou que os adolescentes serão incluídos no Programa de Imunização, mas apenas depois que toda a população de 18 anos ou mais receber ao menos uma dose de imunizante.
O presidente do Conass, Carlos Lula, estima que, até o início de setembro, todos os brasileiros adultos já tenham recebido a primeira dose. A partir de então, segundo o comunicado do ministério, os menores de 18 anos serão vacinados. Terão prioridade aqueles que apresentam comorbidades.
Segundo informações divulgadas pelo governo federal, 98 milhões de brasileiros receberam a primeira dose, o equivalente a 45% da população. E 39,5 milhões tiveram acesso à nova aplicação. Ou seja, apenas 18% da população brasileira está totalmente imunizada — com duas doses ou com dose única.
Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) voltou a antecipar a vacinação de adultos e adolescentes. Segundo ele, todos os adultos devem receber a primeira dose da vacina até 16 de agosto. “Adolescentes na faixa de 12 a 17 anos começarão a ser vacinados no dia 18 de agosto, começando pelos jovens com comorbidades e, na sequência, todos os demais jovens nessa faixa etária de 12 a 17 anos", afirmou o governador.
Diferentemente da orientação do Ministério da Saúde, cidades como Campo Grande (MS), Niterói (RJ), São Luís (MA) e Guajará-Mirim (RO) já começaram a vacinar adolescentes. No comunicado desta terça-feira, a pasta avisa que estados e municípios devem seguir rigorosamente o Plano Nacional de Imunização, "sob pena de responsabilização futura".
No Brasil, a única vacina autorizada para utilização em adolescentes é da Pfizer. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou, em junho, o uso do imunizante em adolescentes a partir dos 12 anos no país.
Previsibilidade
O médico infectologista André Bon, do Hospital de Brasília, explica que a programação de imunização deve obedecer à previsibilidade de recebimento de doses. Para o médico, planejar a imunização de adolescentes neste momento não significa um problema caso as secretarias de saúde contem com uma previsão de recebimento de vacinas em uma quantidade suficiente para analisar a expansão de faixas etárias. “Óbvio que essa expansão deve ser dentro do contexto adequado de imunização para crianças e adolescentes, com a utilização das vacinas adequadas e dando prioridade para adolescentes com comorbidades, por exemplo”, ressalta Bon.
A médica infectologista Karen Mirna Loro reforça a importância de dar prioridade aos pacientes com comorbidade. “Entendo ser importante vacinar toda a população com a maior celeridade possível, particularmente, pacientes com comorbidades. Dessa forma, é importante que as pessoas se vacinem assim que suas faixas etárias e condição de saúde forem contempladas”, recomenda.
O Brasil recebeu, na noite desta terça-feira, uma nova remessa com 1.053.000 de doses de vacinas da Pfizer. Até o momento, a farmacêutica já entregou 24 milhões de doses do imunizante ao Brasil. "Faltam quase 6 milhões que serão entregues até o dia 1º de agosto, para completar as 30 milhões de doses que terão sido entregues ao Governo brasileiro neste primeiro semestre de 2021", informou, em nota, o representante da Pfizer no país.
Essas doses fazem parte do primeiro contrato assinado entre o governo federal e a Pfizer em março deste ano, que prevê a entrega de 100 milhões de imunizantes até o final de setembro.
* Estagiárias sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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