Os sistemas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência federal de fomento à pesquisa, chegaram, ontem, ao quarto dia fora do ar. A indisponibilidade das plataformas Lattes — Currículo Lattes, Diretório de Grupos de Pesquisa, Diretório de Instituições e Extrator Lattes) e Carlos Chagas compromete o acesso a currículos de cientistas e acadêmicos das mais várias áreas, além de outras operações ligadas à pesquisa.
De acordo com o CNPq, o servidor utilizado para armazenar o Lattes “queimou”, e o problema foi notificado na última segunda-feira, quando pesquisadores de todo o Brasil tentaram acessar o currículo, mas não conseguiram. Por meio das redes sociais, o governo federal confirmou a “indisponibilidade das plataformas”.
“O CNPq informa que segue em esforço conjunto com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) para o restabelecimento dos sistemas após evento que causou a indisponibilidade das plataformas. A prioridade é restaurar o acesso aos currículos na Plataforma Lattes o mais rápido possível”, destacou a nota do CNPq.
A entidade destacou que o problema foi detectado e que estava sendo corrigido, porém não deu prazo para a normalização dos serviços. Garantiu, ainda, que não houve perda de dados do Lattes. “O CNPq já dispõe de novos equipamentos de TI e a migração dos dados foi iniciada antes do ocorrido. Independentemente dessa migração, existem backups cujos conteúdos estão apoiando o restabelecimento dos sistemas”, garantiu, acrescentando que o pagamento das bolsas aos pesquisadores não será afetado.
O conselho está sob o comando do Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável pelo fomento à pesquisa e pelo pagamento de bolsas a cientistas em todo o Brasil. Segundo o órgão, o problema foi identificado no sábado e, por causa da indisponibilidade do sistema, todos os prazos de editais estão suspensos e serão prorrogados.
Desmonte
A Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) relacionou o apagão ao contingenciamento de gastos que o órgão vem sofrendo. Segundo a entidade, o CNPq tem o menor orçamento da sua história recente, com apenas 26 milhões para investir em fomento.
“O apagão do CNPq é o negacionismo em estado bruto. A plataforma Lattes está fora do ar desde sexta-feira, especialistas temem que dados de pesquisas sejam perdidos. É um misto de descaso com incompetência”, criticou a nota.
O Sindicato Nacional dos Gestores Públicos na área de Ciência e Tecnologia (SindGCT) também se manifestou e lembrou a falta de investimentos na instituição. “O SindGCT acompanha com preocupação a situação do CNPq e de seus sistemas. Acreditamos que tal problema não é conjuntural, isolado e fortuito. Trata-se do resultado do descaso e desmonte que o CNPq vem sendo submetido desde o governo Temer e que se aprofundou agora no governo Bolsonaro. A falta de recursos não tem atingido apenas os orçamentos para financiamento de bolsas e projetos de pesquisa. Ele tem prejudicado enormemente a infraestrutura do CNPq e de seu quadro de pessoal. Os sistemas, por falta de investimentos, atualização e de visão estratégica dos dirigentes tem se tornado um verdadeiro gargalo para a realização das ações do órgão”, disse, em nota.
Procurado pelo Correio, o Ministério da Ciência e Tecnologia não se manifestou até o fechamento desta edição.
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