Agência Estado
postado em 26/07/2021 12:09
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou nesta segunda-feira, 26, que a estátua a Borba Gato será restaurada, com os custos pagos por um empresário de identidade não divulgada. Criticado por homenagear um bandeirante que "caçava" indígenas, o monumento foi incendiado no sábado, 24, por cerca de 20 pessoas.
O grupo ateou fogo a pneus dispostos na base da estátua, localizada no distrito de Santo Amaro, na zona sul paulistana. Imagens da ação foram publicadas no perfil Revolução Periférica, nas quais pessoas aparecem com uma faixa com a frase "A favela vai descer e não será Carnaval".
O motorista de caminhão que teria transportado os pneus até o local chegou a ser detido no domingo, 25, por policiais do 11º DP. "As investigações seguem para identificar e responsabilizar os demais envolvidos no caso", informou a Secretaria da Segurança Pública (SSP) em nota.
"Classificamos como lamentável e um ato de vandalismo. Não é fazendo um ato de vandalismo que vai poder discutir questões, mesmo que sejam dívidas do passado", disse Nunes a jornalistas em agenda pública nesta segunda. "É preciso ter bastante tranquilidade, respeitar a democracia, (ter) tolerância."
Uma técnica do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), vinculado à Secretaria Municipal de Cultura, acompanhou a limpeza da obra, que segue de pé. Nesta semana, uma avaliação sobre o estado do monumento será realizada por um especialista.
A partir do resultado da análise, será possível avaliar o custo e a duração do restauro. "Só não vou dizer aqui quem é (o empresário que pagará pela restauração) para não fazer propaganda da pessoa", acrescentou Nunes.
Em nota, a gestão municipal informou ainda que será reforçada a segurança no entorno do monumento, que está isolado pro fitas. "A GCM (Guarda Civil Municipal) informa que irá aumentar o número de rondas pela praça Augusto Tortorelo de Araújo", apontou.
O monumento é criticado desde a inauguração, em 27 de janeiro de 1963, em meio aos festejos do IV Centenário de Santo Amaro. Na data, pessoas também desfilaram vestidas de bandeirantes e indígenas, com carros de boi, canoa e outros elementos.
O artista Julio Guerra, falecido em 2001, utilizou trilhos de bonde e pedras coloridas de basalto e mármore para executar a obra, que levou seis anos para ficar pronta. O monumento tem 13 metros de altura e 20 toneladas, estando sobre um pedestal revestido de granito rústico, de cerca de 2 metros de altura.
Entenda quem foram os bandeirantes e por que eles são homenageados em São Paulo
Homenagens a figuras históricas como os bandeirantes, no Brasil, ou de traficantes de escravos têm passado por uma revisão de seus significados na história - como perpetuadores do racismo estrutural - e levantado o debate em torno da representatividade em espaços públicos. Elas são frequentes também na cidade de São Paulo, em monumentos, nome de ruas, rodovias e até dão nome ao palácio do governo estadual.
Os bandeirantes eram homens que trabalhavam na região sudeste com a exploração de minérios, escravização de indígenas e captura de escravos fugitivos no século 17. São Paulo estava na margem da colônia brasileira; foi, por muito tempo, uma região indígena e jesuítica, e veio a se urbanizar com maior intensidade apenas no final do século 19.
Não eram, contudo, conhecidos como "bandeirantes" durante a época em que atuaram. O termo foi cunhado por historiadores contemporâneos, como Affonso Taunay, que dirigiu o Museu Paulista a partir de 1917. Até então, eram conhecidos apenas como "paulistas" ou sertanistas.
Nem sempre foram figuras celebradas. Eram, inclusive, vistos de maneira negativa até o século 17, quando tinham fama de mercenários e representavam um perigo para os aldeamentos.
Essas narrativas, contudo, acabaram por apagar todo um histórico de violências cometidas pelos bandeirantes. Além das invasões e saques a aldeamentos, escravizavam comunidades indígenas e violentavam as populações originárias, principalmente as mulheres, reforça Angatu.
A escultura do Borba Gato já foi alvo de protestos de grupos indígenas contrários à manutenção das peças em espaços públicos./COLABOROU BRENDA ZACHARIAS
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