Com a vantagem da aplicação em dose única, a vacina Janssen passou a ocupar papel estratégico na vacinação de alguns municípios. Em busca de imunizar grupos que correm o risco de não retornar para a segunda aplicação ou que precisam de mais rapidez no processo, estados como Minas, Paraná e Rio Grande do Norte, e cidades como São Paulo e Araguaína (Tocantins), destinam todas ou uma parte das doses para moradores de rua e caminhoneiros. Especialistas elogiam priorização desses grupos.
A Prefeitura de São Paulo reservou cerca de 12% das doses da Janssen, no último sábado, para a população de rua com mais de 18 anos — 14 mil unidades devem concluir a vacinação dessas pessoas, iniciada ainda em fevereiro. Nos últimos quatro meses, quase 22 mil doses de outras vacinas foram aplicadas nos centros de acolhida da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS). Em nota, a pasta disse que o objetivo da nova etapa é completar a aplicação de parte dessa população que não está cadastrada nesses centros.
As demais 100 mil doses do imunizante enviadas ao município foram distribuídas às 468 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da capital e poderão ser aplicadas no público geral elegível. Ontem, São Paulo imunizou quem tem 46 anos ou mais.
Das 149 mil doses recebidas por Minas, 80% vão para moradores de rua. O estado também determinou o uso da vacina americana em trabalhadores do transporte coletivo e da limpeza urbana, e forças de segurança e de salvamento. Em Belo Horizonte, todas as 23 mil unidades da Janssen serão utilizadas, inicialmente, para a imunização da população de rua — estimada em 8,5 mil pessoas, levando em conta os inscritos no Cadastro Único e aqueles atendidos pelos serviços e unidades socioassistenciais.
Conforme o andamento da vacinação, no caso de doses restantes a Secretaria Municipal de Saúde vai avaliar quais grupos poderão aproveitar o excedente. Entre 26 de maio e 25 de junho, cerca de 1,6 mil moradores de rua com mais de 18 anos haviam sido imunizados na capital mineira.
Já o governo do Rio Grande do Norte determinou que, por apresentarem dificuldades de retorno para a segunda dose, moradores de rua e caminhoneiros devem ser considerados prioritários para a aplicação da Janssen. No Paraná, que recebeu cerca de 91 mil injeções, os caminhoneiros estão entre os prioritários, assim como trabalhadores do transporte rodoviário, ferroviário e aquaviário.
Saiba Mais
Estratégia correta
Médica e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi encara como positiva a priorização de pessoas em situação de rua e caminhoneiros. “O objetivo é ter menos gente sem a segunda dose. Já temos 3,8 milhões de pessoas que só têm a primeira, sem a segunda. Esse é um grande prejuízo, pessoas que não estão protegidas”, afirma.
Segundo ela, “usar uma vacina de uma dose para pessoas como os moradores de rua, que você pode ter dificuldades de encontrar ou de ter uma procura espontânea pela vacina, é uma estratégia lógica”, elogiou. “Os agentes comunitários estão indo atrás dessas pessoas que estão mapeadas, que não tomaram a segunda dose. Nesse sentido, com as pessoas que não têm residência fixa, lógico que é mais fácil usar a Janssen”, explicou.
Nos EUA, imunizante serviu aos vulneráveis
O Brasil não é o primeiro país a vacinar a população de rua com a Janssen. Nos Estados Unidos, organizações que trabalham com esse grupo utilizam a vacina da farmacêutica. No final de abril, relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) apontou que essa população seria uma das mais afetadas com uma possível suspensão permanente do imunizante. A maior parte das jurisdições relatou focar os esforços da vacinação com a Janssen em populações móveis ou difíceis de alcançar com uma segunda dose — neste conjunto, os sem-teto são maioria: 68%.