À medida que o ritmo de vacinação cresce, a precipitada sensação de que a sociedade já está em segurança tem feito com que os níveis de infecção pela covid-19 se mantenham em altos patamares. Com a chegada do inverno e a sazonalidade das síndromes respiratórias, a tendência é que haja um novo agravamento na pandemia, como alerta o último Boletim Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado ontem. Nas análises, os pesquisadores observaram um aumento na incidência de casos, bem como na mortalidade. Dezenove das 27 unidades da Federação apresentam taxas de ocupação de pelo menos 80%, sendo que em oito são iguais ou superiores a 90%.
Ao Correio, o coordenador do levantamento, Marcelo Gomes, alertou que indicadores positivos como a pequena melhora no até então ritmo lento de vacinação, quedas nos números de casos e uma melhora nos índices de ocupação de leitos hospitalares, acabaram dando uma falsa impressão de controle, no qual a análise da transmissão ficou de lado, o que ajudou a manter as novas infecções em níveis explosivos.
“Deixamos de lado, justamente, a questão do patamar. De quantos casos, de fato, se observa e o que isso significa em termos de transmissão. Ou seja, de risco de infecção propriamente dito”, salientou.
O sinal de atenção para observar esse indicador era feito pelos pesquisadores desde o início da queda da nova onda de covid-19 deste ano. “A gente conseguiu reduzir em relação ao pico de março, mas continuamos observando, ainda, valores semanais considerados extremamente elevados (de casos) na maior parte do país”, explicou.
Segundo Gomes, a segurança, do ponto de vista biológico, só ocorre quando o índice de infectados ficar abaixo 0,5 casos por 100 mil habitantes, o que é considerado um valor de nível pré-epidêmico. “Realmente é uma situação muito preocupante, que exige que a gente volte a tomar todas as ações que estão ao alcance das autoridades públicas, do setor privado, da população, para que se retome o cenário de queda e que mantenha essa redução pelo tempo que for necessário para atingir o patamar de segurança”, observou.
Rejuvenescimento
Sem a manutenção das medidas não farmacológicas, o que se observa é um rejuvenescimento da pandemia, explicado pelo aumento de circulação, inclusive, entre os grupos ainda não contemplados com a vacina. Ao comparar a Semana Epidemiológica 1, deste ano, com a 22, os pesquisadores da Fiocruz notaram que a média de idade de pessoas internadas por covid-19 passou de 62,3 anos para 52,5 anos. Para as mortes, os valores médios eram de 71,4 anos e passaram para 61,2 anos.
Os números diários de casos e óbitos pelo novo coronavírus seguem elevados. Ontem, mais 74.042 infecções e 2.311 vidas perdidas foram registradas pelo balanço do Ministério da Saúde. Com isso, a média móvel de casos e mortes, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), também se mantém em um alto índice. A média de mortes voltou a atingir o número de 2 mil no último domingo e, ontem, alcançou a marca de 1.998 — totalizando 496.004 óbitos. Já a de casos positivos ficou em 70.237 diagnósticos confirmados.
EUA enviam doses nas próximas semanas
Os Estados Unidos vão enviar doses de vacinas contra a covid-19 ao Brasil nas próximas semanas. Foi o que afirmou, ontem, o coordenador da força tarefa da Casa Branca contra a pandemia, Jeff Zients, mas não especificou quantas das 80 milhões de doses previstas para doação serão desembarcarão no Brasil.
Conforme disse, o governo norte-americano também espera “fazer mais” no segundo semestre de 2021 para combater a ameaça global do novo coronavírus, em adição ao compromisso de doar 580 milhões de injeções dos imunizantes a nações de baixa renda. Sem esclarecer se o governo de Joe Biden pretende aumentar as doações no período, o comentário foi feito enquanto Zients destacava os esforços dos Estados Unidos para acelerar a vacinação contra a doença em todo o mundo, “à medida que as taxas locais de infecção e mortes por covid-19 melhoram”.