Em meio à preocupação de especialistas com uma possível terceira onda de covid-19 e com taxas de ocupação de leitos ainda altas no Brasil, a cobertura vacinal de mais faixas etárias se mostra cada vez mais urgente. A orientação, aprovada pelo Ministério da Saúde no fim de maio, permite que municípios comecem a vacinar por idade, em ordem decrescente, o que tem sido aderido por alguns. Assim, governadores e prefeitos do país abriram uma “corrida” por quem vacinará toda a sua população primeiro.
No Rio de Janeiro e em São Paulo, a expectativa é de vacinar 100% dos acima de 18 anos até outubro. No Rio Grande do Sul e no Pará, a meta é setembro. No Distrito Federal, porém, a previsão é vacinar 70% até outubro, o que destoa das expectativas mais céleres de outras regiões. Apesar do ritmo mais lento, o Governo do Distrito Federal avançou 10 anos esta semana, ampliando a liberação de doses, de 59 anos, no início da semana, para 50 anos — faixa etária recém-incluída para agendamento.
Segundo uma pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM) que avaliou 3.129 cidades, a imunização por idade, de pessoas abaixo de 60 anos sem comorbidades, teve início em 53% dos municípios brasileiros. Os números mostram que, apesar da decisão ter sido pactuada entre a pasta da Saúde e os gestores estaduais e municipais, o ritmo de vacinação em cada uma das 5.570 cidades o país varia.
A mesma pesquisa da CNM aponta que a maioria das cidades (71%) que começou a imunização por idade está vacinando pessoas acima de 55 anos. Outras 19% convocaram pessoas com 50 a 55 anos para tomar o imunizante contra ao novo coronavírus e 9% começaram a vacinar quem tem menos de 50 anos.
Ao observar a vacinação das capitais brasileiras também é possível ver essa discrepância no ritmo (veja arte). Enquanto São Luís (MA) se tornou, na sexta-feira, a primeira capital do país a imunizar pessoas abaixo dos 30 anos, sem comorbidades, capitais como Palmas (TO) e Boa Vista (RR), por exemplo, ainda não aplicaram a primeira dose em grupos com idade inferior a 60 anos.
O sanitarista e membro da Fundação Getulio Vargas (FGV) Walter Cintra explica que essa diferença pode ser explicada por vários motivos. Por exemplo, em razão das particularidades de cada município. “Vai depender da população da cidade, da disponibilidade de vacinas, da orientação do próprio Ministério da Saúde — que, em um momento, orientou para utilizar todas as doses disponibilizadas, sem guardar a segunda dose”, enumerou.
O médico lembrou ainda que os municípios têm autonomia para fazer a própria campanha de vacinação dentro dos parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Saúde. “Isso também depende da estratégia que a cidade vai adotar naquele momento para vacinar a própria população”.
Comprovante
No anseio de receber ao menos a primeira dose da vacina contra a covid-19, brasileiros comparam o ritmo de vacinação das cidades e até mesmo cogitam viajar a fim de conseguir um lugar na fila. “De fato, isso tem acontecido. Inclusive, na cidade de São Paulo se estabeleceu recentemente que as pessoas que forem se vacinar devem levar um comprovante de moradia”, apontou Cintra.
A medida citada pelo médico foi adotada na capital paulista em 28 de maio e pede para que os moradores elegíveis à vacinação mostrem um comprovante de residência quando forem tomar a primeira dose. De acordo com a prefeitura, a decisão foi tomada porque a faixa etária está diminuindo progressivamente e as doses dos imunizantes são contabilizadas pelo Ministério da Saúde e pelo governo do estado.
Aceleração
Apesar da diferença entre cidades, o secretário de Saúde do Maranhão e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, acredita que o país conseguiu acelerar o processo de vacinação contra o novo coronavírus com a estratégia de abrir a imunização para a população geral. “A gente conseguiu acelerar o processo de vacinação e acredito que essa avaliação é unânime entre os secretários”, disse ao Correio.
O presidente do Conass destacou que a celeridade pode ser notada nos números de vacinados por dia no país. Esta semana, o Brasil conseguiu vacinar mais de 1,6 milhão de pessoas em um dia, a segunda marca mais alta desde o início da campanha nacional, segundo dados do consórcio de veículos de imprensa. Segundo o sanitarista Walter Cintra, a capacidade de vacinação no país sempre foi alta e o que faltam são vacinas.
“O fator limitante para nós nunca foi a operação de vacinar e nem a logística de levar a vacina em lugares mais distantes. O grande fator limitante foi a disponibilidade de vacina”, pondera o médico. O presidente do Conass, Carlos Lula, reconhece que essa diferença vista no ritmo de vacinação dos estados também é fruto da falta de imunizantes. “De todo modo, a gente tem que entender que não tem vacina para todos ainda. É um ritmo de vacinação diferente, município a município, estado a estado. Então, a gente tem que entender que esse tipo de vacinação não se dá ao mesmo tempo no Brasil de uma maneira geral, mas que o ritmo tem conseguido avançar e isso é o que mais importa”, disse o secretário.
*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro